quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Entrevista exclusiva com o téologo J. I. Packer

Um dos 25 evangélicos mais influentes nos EUA combate o ecumenismo e o pluralismo religioso


Entrevista exclusiva com o téologo J. I. Packer
Por Silas Daniel
James Iaann Packer foi considerado pela revista norte-americana Times, em edição de janeiro de 2005, um dos 25 evangélicos mais influentes nos Estados Unidos. Packer é notadamente um dos maiores teólogos da atualidade. Ele é autor do best seller teológico "O Conhecimento de Deus" e da obra "O Plano de Deus para você", um dos grandes lançamentos da CPAD em 2005.

Packer nasceu em Gloucestershire, Inglaterra, em 1926, e estudou na Universidade de Oxford, onde formou-se em Teologia em 1952 e doutorou-se em Filosofia em 1954. Em 1952, foi ordenado ministro, servindo como ministro-assistente da Igreja de Saint John, na Inglaterra, em Harborne, Birmingham, até que em 1954 foi convidado para ser professor sênior do Tyndale Hall, um seminário anglicano em Bristol, onde lecionou de 1955 a 1961. De 1961 a 1970, foi diretor do Latimer House, um centro anglicano de estudos evangélicos em Oxford. Em 1970, retornou a Bristol para ser reitor do Tyndale Hall. Quando este fundiu-se em janeiro de 1972 com dois outros seminários evangélicos para se tornar o Trinity College, Packer assumiu a função de reitor associado da nova instituição.

Em 1979, tornou-se professor de Teologia Histórica e Sistemática do Regent College, em Vancouver, Canadá. Desde 1996, é presidente da mesa de professores de Teologia do Regent College. Casado e pai de três filhos, ele tem pregado e conferenciado em toda Grã Bretanha e América do Norte, e é um articulista freqüente em periódicos teológicos. É ainda editor-executivo da mais famosa revista evangélica do mundo, a Christianity Today, e foi editor-chefe da versão English Standard da Bíblia, publicada em 2001.

Mesmo em meio a muitas atividades, professor Packer cedeu-nos esta entrevista, abordando o ecumenismo, a Teologia da Prosperidade, o ensino do “esvaziamento” de Cristo e a heresia de que o inferno não existe.

O senhor escreveu um livro sobre o plano de Deus para o homem, publicado no Brasil pela CPAD. Qual é o propósito e a mensagem desta obra?
O livro foi publicado em inglês em 2001 e é uma espécie de suplemento para meu mais conhecido livro, O Conhecimento de Deus. Seus capítulos cobrem alguns aspectos do relacionamento com Deus, como alegria, autoconhecimento, santidade, transformação conforme a imagem de Cristo, comportamento diante da má saúde e das más situações, e como ganhar sabedoria e enfrentar a morte. Mas o principal alvo é mostrar que a graça de Deus em Cristo é adequada para levar-nos ao enriquecimento espiritual e a vitórias em todas as situações.
Diversas religiões apresentam sua crença sobre qual é o plano de Deus para a vida das pessoas. Como o senhor sintetiza o plano de Deus para a vida à luz das Sagradas Escrituras?
O compreensível plano de Deus para nós, pecadores salvos através de Cristo, é que aprendamos a glorificá-lo e a alegrar-se Nele, a amá-lo, adorá-lo e servi-lo com todo o nosso coração. Isso requer regeneração, novo nascimento, transformação do caráter através da renúncia à impiedade e a determinados comportamentos, e do desenvolvimento de hábitos cristãos em seu lugar, do Fruto do Espírito em nós, conforme Gálatas 5.22-23. Devemos guerrear espiritualmente contra o mundo, a carne e o Diabo, que procuram obstruir e espoliar a obra de Deus em nós. Precisamos ainda cultivar a companhia de Cristo, e termos cuidado para não o desonrarmos por meio da pobre qualidade do nosso discipulado. São também importantes responder ao ministério íntimo do Espírito Santo quando ele toca nossa consciência para a humildade e a santidade, e tomar cuidado para não ofendê-lo com pensamentos orgulhos, palavras ásperas ou ações vergonhosas; deixar Deus reestruturar nosso desordenado coração, para que possamos dar amor a Ele e aos outros, e mantermo-nos assim todos os dias da nossa vida; e, finalmente, sermos humildes e transparentes no nosso relacionamento com os outros, ativos no trabalho e testemunhas do Senhor em meio a este mundo de escuridão espiritual que nos rodeia. Muito disso pode ser encontrado em meus livros O plano de Deus para você e "Rediscovering Holiness" (Redescobrindo a santidade), que lancei em 1992.
Qual é a principal heresia de nossos dias?
A heresia que ameaça todas as formas de cristianismo hoje é o pluralismo religioso, a idéia de que todas as religiões estão escalando na verdade uma mesma montanha, mas de pontos iniciais diferentes, e reunir-se-ão quando chegarem ao topo, onde Deus, segundo os hereges dizem, é completamente conhecido. O islã tem o propósito de conquistar o mundo, como as missões cristãs um século atrás, e rejeitam o pluralismo. A maior parte das religiões do mundo faz o mesmo, mas alguns pensadores cristãos estão influenciados pelo sonho de todas as religiões do mundo virem a abraçar-se proporcionando alguma forma de complementação do conhecimento de Deus. Essa heresia implica a negação da singularidade de Cristo como Salvador do mundo, o único e suficiente caminho para o singular Deus Pai, que perdoa nossos singulares pecados pelo sangue singular de Cristo derramado no Calvário e recebe-nos singularmente como filhos adotivos em sua família, na qual o Senhor Jesus, nosso singular Mediador e Salvador, é também o singular irmão mais velho. Todos os outros erros modernos são insignificantes se comparados com este.
Além do ecumenismo, a Teologia da Prosperidade ainda é um grande problema?
A Teologia da Prosperidade é o ensinamento de alguns televangelistas e cristãos neopentecostais, e foi popular na América do Norte há vinte anos, mas é raramente escutada hoje por aqui. Não sei se ela ainda tem esse vigor todo na África, Ásia e América do Sul, mas teve alguma repercussão também nesses continentes. Esse ensino repousa sobre os seguintes princípios: 1) Deus é fiel cumpridor de suas promessas, o que é verdade; 2) reivindicar promessas é uma maneira de orar, o que também não deixa de ser verdade; 3) as promessas de prosperidade no Velho Testamento como um sinal do favor divino aplicam-se inalteravelmente no Novo Concerto, o que é mais falso do que verdadeiro, pois ainda que Deus encarregue-se de suprir diariamente o pão durante nossa vida neste mundo até o fim, as promessas de saúde-e-prosperidade para Israel tipificam o enriquecimento espiritual aqui e a plenitude de abundância depois daqui, no Céu; 4) e pedir a Deus brava e audaciosamente em oração, compelindo-o a responder nossas solicitações exatamente nos termos em que nós as fizemos, em vez de preferir que Ele responda-nos fazendo o melhor conforme a nossa necessidade. Isso é falso, pois choca-se com o que nos ensinam textos como 2Coríntios 12.7-10.
Recentemente, alguns teólogos evangélicos liberais começaram a ressuscitar a teoria de que o Inferno não é uma realidade. Até um famoso teólogo evangélico inglês, conhecido no mundo todo pela sua ortodoxia, chegou inicialmente a simpatizar com a teoria. O senhor foi um dos que combateram esse movimento. Quais os perigos dessa heresia?
O Inferno é o estado final de separação do amor de Deus e de todas as coisas boas que ele concede diariamente nesta vida. Ele é tão eterno quanto eterna é a vida; se a última é interminável, então esse é o padrão (Mt 25.46; Rm 2.5-12; Ap 14.9-11, 20.12-15, 21.8). As Escrituras descartam a salvação universal e a aniquilação do mau pela morte ou após o último julgamento. Tudo isso foi muito debatido recentemente e em detalhes em todo o mundo teológico de fala inglesa. O que tenho dito até aqui parece ser a visão geral agora, quando esse debate começou a morrer. Claramente, é improvável que os que não acreditam em um inferno eterno sintam a urgência do evangelismo fortemente como os que crêem nisso.
O senhor escreveu em seu bestseller Conhecimento de Deus sobre o sentido do termo grego kenosis, usado em Filipenses 2.7 e traduzido em algumas versões como “aniquilamento” ou “esvaziamento”. Como o senhor explica kenosis e, conseqüentemente, a doutrina do “esvaziamento” de Cristo em sua encarnação?
Kenosis é uma palavra grega que significa “esvaziamento”. A teoria de kenosis, como é conhecida, é a suposição – e não mais do que isso, porque não há suporte para ela nas Escrituras – de que na disposição de entrar plenamente na experiência humana de limitação, o Filho de Deus entregou, suspendeu e abandonou o exercício dos poderes de onipotência e onisciência que eram seus antes. Isso significa que, durante a vida encarnada de Jesus na Terra, o Pai, o Filho e o Espírito não eram co-iguais. Tal teoria levanta o seguinte dilema: O Filho, depois de glorificado, recuperou esses poderes (neste caso, apoiando a teoria, sua vida hoje glorificada não seria plenamente humana) ou ele não os recuperou (neste caso, a co-igualdade com o Pai e o Espírito nunca serão dele novamente)? Cristãos sensatos julgarão acertadamente que, de um jeito ou de outro, essa teoria se autodestrói. As limitações humanas de conhecimento de Jesus em Marcos 5.30-32 e 13.32, e de energia em Marcos 4.38, devem ser explicadas em dois termos. Primeiro, por causa do desejo do Pai de que o Filho não usasse seus poderes divinos para transcender os limites da experiência humana. A onisciência só se manifestava em ocasiões de conhecimento à distância e do futuro, capacidades concedidas também aos profetas. Vemos isso em passagens como Mateus 17.17 e 21.2, Lucas 18.31-34 e 22.10-13, e João 1.48. E, em segundo lugar, devido à satisfação do Filho em relação ao desejo do Pai nessa matéria, de que, por alguns instantes, não usasse seu poder para prever aquilo que Ele sabia que seu Pai não desejava que previsse. Filipenses 2.6 e 2Coríntios 8.9 afirmam um abandono temporário da nobreza e da glória divinas, mas não dos poderes divinos. Isso está claro no contexto dessas passagens.
O professor norte-americano Norman Geisler escreveu um artigo combatendo o fato de alguns teólogos estarem ensinando que a ressurreição de Cristo foi espiritual. É a doutrina da ressurreição uma das mais atacadas em nossos dias?
Um professor, hoje aposentado, publicou um livro argumentando que quando Jesus deixou a tumba na ressurreição, seu ser físico, sua humanidade, foi transformado em uma forma invisível até que, por um ato da vontade de Jesus, ele fez a si mesmo visível para seus discípulos nas aparições após a ressurreição. Professor Geisler, juntamente com outro colega que lecionou Teologia por anos, alertou que isso poderia implicar que o Senhor ressuscitado não seria mais plenamente humano (o Messias é 100% homem e 100% Deus). Concordo com eles que é natural da humanidade ser fisicamente visível para outros humanos, como o mundo verá a Jesus quando Ele vir novamente, mas não acho que a disputa seja importante. Nenhum dos dois lados negou a ressurreição corpórea do Senhor, mas ambos estão afirmando o mesmo, e isso é o que importa. De qualquer modo, entendemos as particularidades do caso. Por agora, a maioria dos evangélicos na América do Norte esqueceu o debate inteiramente.
Como o senhor vê catástrofes como a do tsunami de dezembro de 2004 na Ásia à luz das Sagradas Escrituras? Os ateístas utilizaram o tsunami da Indonésia para afirmar que Deus não existe. Por que Deus permitiu o tsunami?
Em primeiro lugar, Deus não deve nada às criaturas e certamente nenhuma criatura humana, ainda mais cheia de pecado, está livre de tribulações neste mundo. A presente vida é preparação para a outra, e a vontade de Deus é que pela prática da bondade, santidade e virtude hoje e aqui sejamos ajustados para a felicidade da glória depois daqui. A vinda do pecado e a providência da redenção através de Cristo como seu remédio não alteram essa agenda. Em segundo lugar, Deus fez o mundo com regularidades. As leis da natureza e os processos naturais são estudados pelos cientistas, o que faz com que sejamos capazes de prever as conseqüências de nossas ações e então aprendermos a tomar decisões adultas, inteligentes, virtuosas e responsáveis. A Bíblia reconhece que desastres naturais, tais como terremotos, tempestades na terra e nos mares, tsunamis e erupções vulcânicas, são parte desse pacote, e ela não encontra nenhum problema nesse fato. Em terceiro lugar, a vontade de Deus para todos é que, quando acontecerem desastres, pratiquemos o que fez o bom samaritano (Lc 10.25-37). Não devemos perguntar o irrespondível “por quê?”, mas devemos sinceramente oferecer a nós mesmos para aliviar as necessidades de nossos próximos. Quanto aos ateístas, como eles querem que Deus não exista e que a crença em Deus seja desacreditada, naturalmente apelam para algo que acham que balançará a fé das pessoas em Deus.
Quais são suas principais recomendações para os estudantes da Bíblia?
Leiam a Bíblia regularmente e toda ela pelo menos uma vez por ano. Tenham um esquema de leitura diária da Bíblia com meditação. E quando voltarem-se para a Bíblia, seja para uma leitura mais demorada ou para ler apenas pequenas porções, orem para que o Espírito Santo vos conceda entendimento. Perguntem sempre a si mesmos, em relação a tudo que foi lido: O que isso revela sobre Deus, a vida humana sob Deus e a minha própria vida neste dia? Releiam muitas vezes os quatro Evangelhos, que têm sido chamados os mais preciosos livros do mundo, pois lá vocês podem ver seu Senhor e ter contato direto com as suas palavras. Aprendam a doutrina cristã, que está implícita em todos os lugares das Escrituras, então verão mais claramente o que está nas Escrituras, assim como uma pessoa que conhece arte vê mais em um quadro em uma galeria do que alguém que apenas o admira. E sempre pergunte ao Senhor como o que foi lido se aplica para orientar e reformar a sua vida.

Os perigos da secularização nas igrejas (3ª parte)

Vejamos agora alguns agentes promotores do secularismo (mundanismo) na igreja. São eles, à luz da Bíblia:

1) 2 Coríntios 4.4: “O deus deste século”. Século aqui é “aion”.

2) 1 Coríntios 2.12: “O espírito do mundo (kosmos)”. Ver também 1 João 4.3.

3) A mídia em geral. Conteúdos de vídeo, áudio, imagem, páginas impressas, internet etc que esteja saturado com o secularismo maléfico e maligno. Exemplo: A mídia principalmente televisiva, que prevalece no lar. Ela orienta os filhos e forma a mentalidade, molda a personalidade das crianças e adolescentes, induzindo-as (bem como os seus pais) ao mal de modo sutil. Atentemos para Deuteronômio 13.5b, Salmos 101.3, Provérbios 23.5 e 1 Coríntios 10.31b. Sim, induz a todos, inconscientemente, ao comportamento reflexo (por aquilo que vê e ouve), ao despudor (Por exemplo: lascívia, luxúria. Ver Oséias 4.12 e 5.4), à permissividade em geral, ao amor-livre, ao sexo-livre, como se tudo fosse natural, normal; à violência e à trapaça, ao engano, ao “jeitinho” e à mentira.

4) O acúmulo injusto, iníquo, de riqueza (Ec 5.10; Ef 5.5; Jr 17.11; Sl 39.6 e 62.10).

5) O trabalho material exagerado e contínuo. A pessoa não tem tempo para Deus, nem para a família, nem para a causa de Deus.

6) A consuetude da sociedade ímpia, incrédula, sem Deus. Paulo nos diz em Romanos 12.2: “Não vos conformeis com este mundo”. São usos, práticas, costumes, tradições e comportamentos sociais na igreja que são anticristãos, anti-Deus, antiéticos e antiestéticos.

7) As mutações sociais na família, constantes e rápidas. Veja 1 João 2.15, onde mundo é “aion”. Essas mutações lentamente enfraquecem, fragmentam, desagregam e arruinam a família, e daí a igreja, pois esta é a constituída de famílias. Em Daniel 7.25, lemos: “E cuidará em mudar os tempos e a lei”. Aqui, devemos conferir 2 Tessalonicenses 2.3, que fala da atividade do “homem do pecado (ho anomos)”.

8) A desumanização do ser humano. Refiro-me ao desaparecimento do amor no ser humano (2Tm 3.1-4). Em Mateus 24.12, Jesus diz: “O amor de muitos esfriará”. 2) No versículo 1 de 2 Timóteo capítulo 3, lemos: “Nos últimos dias”. Atente para a descrição dos últimos dias nesse capítulo. Ali há um aviso profético da Palavra de Deus. No versículo 2:  “Amantes de si mesmos (phil/autos)”. No versículo 2: “Avarentos (phil/arguros)”. No versículo 3: “Sem afeto natural (a/storgoi)” e “sem amor para com os bons (a/phil/agathos)”. E no versículo 4: “Mais amigos dos deleites (phil/hedones)”. Como se portará a humanidade sem amor?

9) A multiplicação do conhecimento humano sem sabedoria (Dn 12.4).
Na semana que vem, teremos a última parte desta série, onde falaremos sobre os efeitos maléficos do secularismo nas igrejas.

Os perigos da secularização nas igrejas (2ª parte)

O secularismo é como um fermento agindo na massa. Paulo lembra em 1 Coríntios 5.6 que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa”. O fermento de que Jesus falou tem muito a ver com o secularismo dentro da igreja. Jesus falou de três tipos de fermentos. Vejamos a seguir.

1) O fermento dos fariseus (Mt 16.6 e Mc 8.15). Os fariseus eram formalistas, religionistas, ritualistas, nominalistas. Eles endeusavam as obras.

2) O fermento dos saduceus (Mt 16.6). Os saduceus eram racionalistas, agnósticos, céticos, materialistas, humanistas. Não criam no miraculoso, no sobrenatural.

3) O fermento de herodes (Mc 8.15). Os herodianos eram liberalistas, iconoclastas, modernistas, politiqueiros, secularistas, irreverentes. Os herodianos profanavam o dia do Senhor.

O fermento na Bíblia representa a corrupção espiritual, agindo ocultamente na massa do povo. A Bíblia fala da corrupção doutrinária (1Tm 4.1), da corrupção no culto, inclusive no louvor e na adoração, como nos dias do Antigo Testamento, e da corrupção no ministério. Alguns exemplos de hoje são a igreja ecumênica, o culto ecumênico, a bíblia ecumênica, o ministério ecumênico etc.

O secularismo e o balaamismo na igreja estão interligados. Balaão foi um estranho profeta-adivinho do Antigo Testamento (Nm 22.5; 23.7; 25.1-3; 31.8,16; Dt 23.4 e Js 13.22). O balaamismo é uma forma de secularismo atuando no Antigo Testamento. O secularismo na “doutrina de Balaão” (Ap 2.14) é a corrupção doutrinária, a qual leva à corrupção do culto e do povo. O texto bíblico fala: “Diante dos filhos de Israel”. É a mistura da igreja com o mundo, como se fosse um só povo.

O secularismo no “caminho de Balaão” (2Pd 2.15) é o profissionalismo material, uma ambição doentia por cargos e consagrações, o mercenarismo religioso, o mercantilismo nas coisas santas do Senhor, a “torpe ganância” citada várias vezes nas Epístolas.

O secularismo no “engano de Balaão” (Jd 11) é a dependência do raciocínio puramente humano, do intelectualismo humano nas coisas do Senhor. Por exemplo: interpretar as Escrituras pelo raciocínio humano somente, administrar a obra de Deus pelo saber humano, e julgar e decidir as coisas do Senhor apenas pelo raciocínio humano.

Devemos nos lembrar que, à luz da Bíblia, alguns “materiais” são imprestáveis na edificação da Igreja. Nesses “materiais”, temos lições preventivas sobre os males do secularismo na igreja. Se não, vejamos:

1) A igreja é comparada a um edifício espiritual em construção. “Eu edificarei a minha igreja”, Mt 16.18. “Sois edificados casa espiritual”, 1Pd 2.5. Podemos ver também essa verdade em Efésios 2.20-22 e 4.12.

2) Em 1 Coríntios 3.10-17, três dos seis materiais mencionados (v12) são impróprios para a edificação da Igreja do Senhor: madeira, feno e palha. São materiais efêmeros, baratos e reprovados por Deus. No sentido figurado da Escritura, esses materiais estão repletos de traiçoeiro secularismo (com outros nomes).

3) Os materiais aprovados por Deus são ouro, prata e pedras preciosas (v12). São materiais duradouros, custosos e especiais.
Na semana que vem, daremos continuidade a este importante assunto, falando dos agentes promotores do secularismo nas igrejas.

Os perigos da secularização nas igrejas (1ª parte)

Em Lucas 17.26-30, encontramos um aviso do Senhor Jesus sobre os males do secularismo e seu avanço como um sinal da proximidade de Sua Segunda Vinda. Afirma Jesus no versículo 26: “Assim como foi nos dias de Noé, assim será nos dias do Filho do Homem”.

O que acontecia nos dias de Noé que se assemelham aos nossos dias? Afirma Jesus: “Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento”, v27. A expressão “casavam e davam-se em casamento” quer dizer, literalmente, casar e descasar-se seguidamente. Perceba que não há qualquer menção a Deus nessa passagem. O homem preocupa-se apenas consigo mesmo. Ele é o centro de tudo. Isso é homocentrismo, hedonismo, humanismo, existencialismo, secularismo.

Sobre os dias de Ló quando da destruição de Sodoma e Gomorra, que se assemelham também aos nossos dias, conforme palavras de Jesus, é dito que “Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam”, v28. Perceba quem,aqui, no versículo 28, o casamento já não é mais mencionado, a prioridade é o lazer e o passatempo, e Deus mais uma vez não é mencionado no contexto social.

De Noé a Ló, do contexto social aludido no versículo 26 ao aludido no versículo 28, são mais de 400 anos. O tempo passou, mas o homem não mudou, e ainda hoje é o mesmo, porque a sua natureza é pecaminosa.

Jesus disse: “Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma...”, v29-30. Veja o versículo 31: “Assim será no dia em que...”. Ou seja, os dias que antecedem a Segunda Vinda de Jesus serão semelhantes aos dias da saída de Ló de Sodoma.

O que é secularismo? Termos afins a este conceito são materialismo, humanismo, racionalismo, consumismo, existencialismo, religionismo, nominalismo e mundanismo. Secularismo é o inverso da espiritualidade bíblica na vida do crente. Secularismo é, no caso da vida da igreja, uma forma sutil, capciosa, ardilosa e disfarçada de corrupção na igreja. Seus pecados são, na maior parte, pecados do espírito.

O secularismo exerce grande atração, fascínio, enlevo e efeito anestésico sobre inúmeros cristãos e inúmeras igrejas. A advertência da Palavra de Deus para esse tipo de coisa é: “Afasta-te” (2Tm 3.5).

Há vários textos bíblicos correlatos a esse assunto. Em João 15.19 e 17.14-16, encontramos o termo “mundo”, que é “kosmos” no grego. O crente e o mundo (como sistema maligno) não devem ajustar-se, harmonizar-se, identificar-se, comungar um com o outro. Em Romanos 12.1-2, mundo é, no original grego, “aion”. Em Efésios 2.2, Paulo fala que não devemos andar como dantes, “segundo o curso deste mundo (kosmos)”. Em 1 Coríntios 2.12, ele nos alerta sobre “o espírito do mundo (kosmos)”. Em 1 João 5.19, o apóstolo João assevera que “o mundo (kosmos) está posto na maligno”. Em 1 João 2.15-17, enfatiza: “Não ameis o mundo (kosmos)”. Esse é um amor mórbido, doentio, amor-mentira. Há muitos outros textos correlatos, como Tiago 4.4 e Gálatas 6.14.

Em 2 Timóteo 4.10, Paulo conta que Demas se perdeu, “amando o presente século (aion)”. Demas foi um obreiro que amou o secularismo.

Na semana que vem, daremos continuidade a este valioso assunto, ressaltando a ação do secularismo como fermento na vida da igreja, levedando toda a massa.

SBB continua a levar a Palavra de Deus a um número cada vez maior

Total de Escrituras, incluindo porções e seleções bíblicas, ultrapassou os 242 milhões de exemplares


SBB continua a levar a Palavra de Deus a um número cada vez maior
O ano de 2011 foi mesmo especial para a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Depois de ter alcançado, em maio, a marca de 100 milhões de Bíblias produzidas desde a instalação da Gráfica da Bíblia, em 1995, a SBB distribuiu, em 2011, 6.783.255 Bíblias completas à população brasileira, 14,54% a mais do que em 2010. “A Palavra de Deus é cada vez mais necessária em nosso mundo, em especial para as pessoas em situação de risco social, cujas vidas são transformadas por meio da mensagem bíblica”, pondera o diretor executivo da SBB, Rudi Zimmer.
 
Se considerados todos os tipos de literatura bíblica distribuídos – Novos Testamentos, Porções Bíblicas (livretos contendo partes do texto bíblico, como evangelhos) e Seleções Bíblicas (folhetos com texto bíblico selecionado) –, foram mais de 242 milhões de exemplares espalhados em todas as regiões do Brasil, dos quais 26,3 milhões por meio dos programas sociais da SBB. Uma distribuição 2,89% superior a de 2010. “O ano de 2011 foi extremamente frutífero para a causa da Bíblia no Brasil, temos de agradecer a Deus por isso e pedir que ele nos oriente nessa missão, pois há ainda muito trabalho a ser feito”, diz o diretor executivo, lembrando que para que cada jovem brasileiro, ao completar 15 anos de idade, tenha seu exemplar da Bíblia, é preciso duplicar essa distribuição.
 
Diferentes formatos

O texto bíblico oferecido em diferentes formatos possibilita que a SBB atenda às necessidades específicas dos mais variados públicos. Grande parte das publicações é disponibilizada a preços subsidiados ou fornecida gratuitamente à população beneficiada pelos programas desenvolvidos pela organização. Entre eles estão Luz no Brasil, A Bíblia para Pessoas com Deficiência, A Bíblia nos Hospitais e A Bíblia nas Escolas. 
 
Outro programa que merece destaque é o Sócio Evangelizador, por meio do qual voluntários distribuem maciçamente folhetos com passagens bíblicas que, além de tratarem de temas do dia a dia da população, estimulam a leitura bíblica. Em 2011, foram distribuídos 231,4 milhões de exemplares de seleções bíblicas.
 
  “Mais do que números, esses dados representam a importância de se trabalhar em diferentes frentes, não perdendo nunca de vista a missão de difundir a Bíblia e a sua mensagem a todas as pessoas, numa linguagem que possam compreender e a um preço que possam pagar”, avalia o diretor executivo, destacando que a Sociedade Bíblica do Brasil tem buscado atender às necessidades das igrejas cristãs, desenvolvendo projetos editoriais relevantes e diversificados, que comuniquem a mensagem bíblica a todos os segmentos da população. Além disso, busca investir em programas holísticos, que atendam integralmente às necessidades da população em situação de risco social. “Este é um exercício pleno dos ensinamentos de Cristo e, por meio dele, fazemos com que a sua Palavra seja alimento, conforto e estímulo para o desenvolvimento humano”, diz Zimmer.

Presbiterianos dizem NÃO ao BBB

Igreja cria site que evangeliza sobre a importância da família


Presbiterianos dizem NÃO ao BBB Em sua 12º edição, o Big Brother Brasil ainda dá o que falar. Nesta terça-feira o assunto foi a expulsão de um participante e o comportamento de duas evangélicas no jogo. È possivel tirar algo de bom do programa? Para integrantes da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) sim. Eles criaram um blog O Lado B do BBB que orientam sobre dos valores inversos à família. E aconselha os leitores a uma vida nova com Jesus.

O 'Lado B do BBB' cita o porquê das escolhas dos perfis dos participantes. Ele aponta que o critério não passa de um jogo de interesse da emissora.   Em uma das notas, o blog  alerta para que a igreja evangélica deve se  posicionar com clareza contra esse tipo de entretenimento, que tem por princípio chamarizes filosóficos a imoralidade, a pressão psicológica, a promoção intencional de intrigas e a instabilidade emocional dos participantes."É uma decisão ideológica vulgarizar a sexualidade à exaustão para que tudo pareça normal em nome do desejo sexual, ao invés de reforçar a sacralidade, religiosa ou não, dos valores relacionados à fidelidade no casamento e ao respeito pela família base da sociedade."

A rejeição ao BBB 12 esta semana ganhou apoio de Helena Tanure, lider de intercessão do Diante do Trono. Ela conclamou os evangélicos descerem do muro. "Mulheres levantem um clamor de misericórdia e coloquem o joelho no chão".


Trecho da Nota postada no 'O Lado B do BBB'

O que poucos talvez percebam é que há uma ideologia por trás das escolhas apontando diretamente para certa eugenia social sofisticada e maligna que privilegia uma agenda política de exposição de determinados segmentos e grupos organizados em detrimento de outros.

Uma espécie de eliminação dos menos privilegiados, não porque são mais fracos ou incapazes de sobreviver como na natureza, mas porque simplesmente eles não interessam a quem realmente decide o que deve interessar ou não interessar ao país e ao mundo.

É uma decisão ideológica privilegiar beleza em detrimento de inteligência e competência, de defender a esperteza e o engano sobre o capital intelectual e interpessoal tão importante em todas as áreas da vida.

É uma decisão ideológica vulgarizar a sexualidade à exaustão para que tudo pareça normal em nome do desejo sexual, ao invés de reforçar a sacralidade, religiosa ou não, dos valores relacionados à fidelidade no casamento e ao respeito pela família base da sociedade.

É uma decisão ideológica fomentar o materialismo levado ao extremo pela ambição de ganhar o prêmio a todo custo, no lugar de incentivar o cultivo da espiritualidade e da solidariedade humana, mesmo que seja em um ambiente competitivo.

As origens e os equívocos da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva

Conheça as origens e os pressupostos equivocados da TP e da Confissão Positiva


As origens e os equívocos da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva
Já há alguns anos que grassa no Brasil uma doutrina divorciada da Palavra de Deus e que sobrevive justamente da distorção da interpretação do texto bíblico. Infelizmente, ela ainda prepondera no meio evangélico brasileiro, devido à influência midiática das igrejas neopentecostais, principais seguidoras e disseminadoras desses ensinos. Trata-se da Teologia da Prosperidade, que também responde pelo nome de Confissão Positiva, que nada mais é do que o seu arcabouço argumentativo.

A Teologia da Prosperidade é o ensino de que o cristão verdadeiro tem o direito de obter a prosperidade financeira e está imune a todas as doenças, podendo inclusive exigir tais coisas de Deus durante a vida presente sobre a Terra. Para isso, basta apenas que use o nome de Jesus e “chame a existência aquilo que não existe”, imitando o que Deus fez na criação do mundo.

O primeiro propugnador desse ensino espúrio foi o norte-americano Essek William Kenyon (1867-1948), que foi pastor de várias igrejas nos Estados Unidos, tendo até fundado uma denominação para ele. Influenciado por ideias de seitas que pregavam o poder da mente, a crença na inexistência de doenças pelo poder da mente e o poder do pensamento positivo, Kenyon criou sua doutrina de Prosperidade. Tudo começou quando frequentava a Escola de Oratória Emerson, em Boston, considerada o berço das ideias filosóficas do movimento denominado Novo Pensamento. Os principais ensinos desse movimento eram a cura, a saúde, a abundância, a prosperidade, a riqueza e a felicidade, e todas via o poder da mente.

O sistematizador do chamado Novo Pensamento foi um homem chamado Phineas Parkhust Quimby (1802-1866), que teve seus ensinamentos repercutidos no final do século 19, logo depois de sua morte. Quimby baseou sua filosofia em seus estudos sobre o espiritismo, o ocultismo, a hipnose e a parapsicologia de forma geral.

Conta o Dicionário do Movimento Pentecostal (CPAD) que “Foi Quimby quem disse ter curado Mary Baker Patterson Eddy, a fundadora da Ciência Cristã, em 1862. Ele tentou tornar a feitiçaria confiável usando a linguagem científica. Parece que o termo ‘Ciência Cristã’, usado por Eddy, fora criado por Quimby, junto com suas formulações teóricas, as quais se tornaram a base para a seita Ciência da Mente, que Eddy fundou. Quimby rotulou a sua formulação de ‘a ciência de Cristo’”.

Os seguidores de Quimby, os chamados quimbistas ou adeptos do Novo Pensamento, chegavam ao ponto de negar a existência da matéria, do sofrimento, do pecado e da enfermidade, dizendo que dores, enfermidades e desgraças poderiam ser banidos pelo poder da mente. Foi sob a influência dessa espécie de xamanismo (bruxaria) científico do Novo Pensamento que Kenyon criou sua doutrina, denominada originalmente de “a confissão positiva da Palavra de Deus”. Ele tentou fazer uma fusão entre os ensinos de Quimby e a Bíblia. Ele tentou adaptar sua crença nos ensinos do Novo Pensamento à Bíblia.

Apesar de Kenyon ser considerado o pai desse ensino espúrio, é outro nome que se destaca no mundo estando ligado a ele. Trata-se de um dos maiores discípulos de Kenyon, o homem que mais popularizou a Teologia da Prosperidade no mundo: o pastor norte-americano Kenneth Hagin (1917-2003).

Hagin era um batista que creu nas doutrinas bíblicas pentecostais e filiou-se à Assembleia de Deus norte-americana, tendo, inclusive, sido pastor nela. Porém, seu apreço aos ensinamentos de Kenyon o levaram à Confissão Positiva. Hagin, então, saiu da Assembleia de Deus, tendo peregrinado por algumas outras igrejas até, finalmente, fundar a sua própria aos 30 anos, época em que fundou também o Instituto Bíblico Rhema, grande centro divulgador de suas ideias.

Além de Hagin, são responsáveis também pela popularização dessas ideias nomes como os pastores Kenneth Copeland, Frederick Price e Charles Capps, menos conhecidos no Brasil, mas tão populares como Hagin nos Estados Unidos. Aliás, não é à toa que, em 1979, Hagin, Kenneth Copeland, Frederick Price, Charles Capps e outros ensinadores da Confissão Positiva resolveram se unir e fundaram a Convenção Internacional de Igrejas da fé, em Tulsa, Oklahoma.

Hagin ensinava que todo cristão verdadeiro deverá ter sempre saúde plena e riquezas, de sorte que toda doença ou pobreza é sinal de “maldição”. Afirmava ele: “Todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de doenças”. Ele cria que o crente fiel deve viver pelo menos 80 anos “sem dor ou sofrimento” e que quem ficasse doente é porque não reivindicava seus direitos ou não tinha fé. Ainda hoje, os seguidores de Hagin enfatizam que o crente deve ter carros novos, casas novas e próprias, as melhores roupas e uma vida de luxo.

A Confissão Positiva prega a chamada “Fórmula da Fé”, que se resume a quatro pontos: “Diga a coisa” (ensinava Kenyon, e repetia Hagin, que “De acordo com o que o indivíduo quiser, ele receberá”); “Faça a coisa” (ou seja, depois de afirmar, faça conforme a sua afirmação, como se já tivesse recebido aquilo que você determinou ou decretou; “De acordo com sua ação, você será impedido ou receberá”, ensinava hagin sobre esse ponto); “Receba a coisa” (viva como se já tivesse recebido o que você decretou); e “Conte a coisa” (fale da coisa às pessoas como se você já a tivesse recebido). Segundo Hagin, o crente, ao orar, deve utilizar termos como “exijo”, “decreto”, “determino” e “reivindico”, em lugar de dizer “peço”, “rogo” e “suplico”. Aliás, de acordo com ele, o crente nunca deve dizer “se for da Tua vontade”, pois isso “destrói a fé”.

Os muitos equívocos da Confissão Positiva

O pastor Esequias Soares, líder da Assembleia de Deus em Jundiaí (SP) e da Comissão de Apologia da CGADB, destaca os equívocos da Teologia da Prosperidade. “Para fundamentar a Teologia da Prosperidade, seus expoentes apresentam um Jesus rico e muito próspero financeiramente quando esteve entre nós. Afirmam ainda que Jesus vivia numa casa grande, administrava muito dinheiro, por isso precisava de um tesoureiro, e usava roupa de griff. Cremos não haver necessidade de refutar tais idéias. Comparemos, por exemplo, Lucas 2.21-24 com Levítico 12.2-4,6,8 e 9.58, e veremos que a família de Jesus não era rica”, lembra pastor Esequias.

Pastor Esequias ressalta ainda a confusão que os adeptos da Confissão Positiva fazem entre os termos logos e rhema. “Hagin faz diferença entre as palavras gregas rhema e logos. Ambas significam ‘palavra’. Ele afirma que logos é a palavra de Deus escrita, a Bíblia, e que rhema é a palavra falada por Deus em revelação ou inspiração a uma pessoa em qualquer época, de modo que o crente pode repetir com fé qualquer promessa bíblica, aplicando-a à sua necessidade pessoal, e exigir seu cumprimento. A base da Confissão Positiva é a fé. O crente deve declarar que já tem o que Deus prometeu nos textos bíblicos e tal confissão pode trazer saúde e prosperidade financeira. A confissão negativa, por sua vez, é reconhecer a presença das condições indesejáveis. Em outras palavras, você nega a existência da enfermidade e ela simplesmente deixará de existir. Isso é o que ensinava Quimby e ensina ainda hoje a seita Ciência Cristã. Ora, atribuir tanta autoridade assim às palavras de uma pessoa extrapola os limites bíblicos. Além disso, não é verdade que haja essa diferença entre logos e rhema”, afirma pastor Esequias.

O apologista e teólogo lembra ainda que “Deus é Senhor e soberano e nós os seus servos. O Senhor Jesus nos ensinou, na chamada Oração do Pai Nosso: ‘Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu’, Mt 6.10. Essas duas palavras gregas são usadas alternadamente para indicar a Bíblia. A Septuaginta usou o termo rhema tou theou, ‘palavra de Deus’, para designar a Bíblia em Isaías 40.8. A mesma expressão reaparece no Novo Testamento grego (1Pe 1.25). Isso encontramos também nos escritos paulinos (Ef 6.17) e, no entanto, encontramos também logos tou theou para designar a Bíblia em Marcos 7.13. A Bíblia diz que devemos confessar nossas culpas para que sejamos sarados (Tg 5.16) e isso não parece ser Confissão Positiva. O apóstolo Paulo afirma haver se contentado com a abundância e com a escassez (Fp 4.11-13). É verdade que a doença é conseqüência da Queda do Éden, mas dogmatizar que todos os enfermos estão em pecado ou não têm fé é ir além do que está escrito. Há casos de pessoas que foram enfermas por desobediência a Deus (Nm 12.10). Por outro lado, há casos de homens de Deus serem enfermos fisicamente. Timóteo (1Tm 5.23) e Trófimo (2Tm 4.20) são exemplos. Devemos ter discernimento para sabermos quando o caso é puramente clínico e quando é espiritual”, destaca o líder.

Ressalta ainda pastor Esequias: “As Sagradas Escrituras ensinam que nem a pobreza nem a riqueza são virtudes, e elas não tratam a pobreza com desdém. Não devemos ir para um extremo e nem para o outro (Pv 30.8-9). É verdade que a riqueza é bênção de Deus, desde que seja adquirida de maneira honesta, não vise exclusivamente aos deleites (Tg 4.3) e não venha dominar a pessoa. Também é bom saber que a pobreza não é símbolo de maldição divina (Pv 17.1 e 1Tm 6.7-9). A Confissão Positiva é uma crença sem fundamento bíblico”.

Ao final, o líder faz um alerta. “Algumas pessoas vêem as aberrações da Confissão Positiva, mas às vezes hesitam em rebater esses abusos temendo dividir o povo de Deus, ou até mesmo ser reputado como incrédulo ou anti-pentecostal. Nós cremos no sobrenatural de Deus e na obra do Espírito Santo. Somos testemunhas de curas e outros milagres que o Senhor Jesus tem operado em nosso meio. Isso são promessas de Deus exaradas na Bíblia (Mc 16.17-20 e Jo 14.12). Nem por isso vamos ser ingênuos para aceitar doutrinas sem base bíblica. Jesus disse: ‘Sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas’, Mt 10.16”, conclui.

Modismos neopentecostais: batalha espiritual, maldição hereditária etc

Os muitos erros, à luz da Bíblia, desses modismos de nossos dias


Modismos neopentecostais: batalha espiritual, maldição hereditária etc
 
Por Esequias Soares
 
A análise do tema Batalha Espiritual, aqui, enfoca o conjunto de crenças e práticas neopentecostais, mas que vem alcançando espaço em nosso meio. São inovações provenientes de várias fontes: erros de interpretação de textos bíblicos, experiências pessoais e revelações de origem estranha. Trata-se de distorção doutrinária que está muito em voga na mídia evangélica e nos últimos anos vem recebendo aceitação de muitos líderes desavisados.
 
Realidade da batalha espiritual

É verdade que no trabalho da pregação do Evangelho ocorrem muitos fenômenos inexplicáveis. Reconhecemos que os demônios existem, eles são reais e manifestam-se de várias maneiras, principalmente nas pessoas possessas. Tais espíritos precisam ser expulsos. É verdade que oração e jejum são indispensáveis e muito importantes na vida do crente, principalmente quando nos encontramos numa situação dessa. Esses fatos são atestados nos Evangelhos (Mt 12.22; 17.19,21).

Antes de sair para a evangelização, devemos orar, pedindo a Deus que prepare o campo para a semeadura. Oração e jejum por uma cidade ou bairro a serem evangelizados são como tropas de artilharia, que primeiro destróem a fortaleza do inimigo, como na guerra, destruindo pontes, aeroportos, rodovias, centrais elétricas, emissoras de rádio e televisão, para que depois as tropas de infantaria possam completar o trabalho. No plano espiritual, há muita semelhança (2Co 10.4). Devemos orar também para que o Espírito Santo prepare cada coração para ouvir o Evangelho, pois é o próprio Espírito quem convence o homem do pecado (Jo 16.8).

A batalha espiritual é, portanto, um tema bíblico: “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”, Ef 6.12. Nessa anáfora, a preposição pros, “contra”, é usada cinco vezes para reforçar a idéia de que a esfera principal de atuação do Príncipe das Trevas não é apenas, como muitos pensam, a prostituição e o crime, mas principalmente o reino das religiões. Religiões falsas são um caso de batalha espiritual.

Na versão Almeida Revista e Corrigida da Bíblia, a tradução de kosmokratoras tou skotous por “príncipes das trevas” é mais precisa. Segundo o dicionário de Horst Balz e Gerhard Schneider, o referido termo significa: “Senhor do mundo. À margem da Bíblia, o termo serve para designar os deuses que regem o mundo (Hélios, Zeus, Hermes), e também os seres espirituais ‘cósmicos’ (os planetas)”.  Esse conceito está dentro do pensamento paulino nessa passagem.

Nesse aspecto, a Teologia da Batalha Espiritual está de acordo com as Escrituras Sagradas. Os fatos estão registrados na Bíblia e nenhum cristão ousa negar essa realidade. Mas, a interpretação desses fatos apresentada pelos teólogos da batalha espiritual torna-os mais próximos do esoterismo e do ocultismo do que dos pentecostais. Isso envolve as doutrinas da maldição hereditária e dos espíritos territoriais, e a idéia de expulsar demônios dos próprios crentes em Jesus.
 
Maldição hereditária
 
Os expositores da maldição hereditária afirmam que seus ensinos têm apoio bíblico e pinçam a Bíblia em busca de versículos aqui e acolá na tentativa de consubstanciar as novidades apresentadas ao povo. Marilyn Hickey é a principal promotora da referida doutrina, também conhecida como “maldição de família”. A doutrina resume-se nisso: se alguém tem problemas com adultério, pornografia, divórcio, alcoolismo ou tendência suicida, é porque alguém de sua família, no passado, não importa se avós, bisavós, tataravós, teve esse problema.

Segundo essa doutrina, a pessoa afetada pela maldição hereditária deve, em primeiro lugar, descobrir em que geração seus ancestrais deram lugar ao Diabo. Uma vez descoberta a tal geração, pede-se perdão por ela e, dessa forma, a maldição de família será desfeita. Uma espécie de perdão por procuração, muito parecido com o batismo pelos mortos, praticado pelos mórmons.

Seu livro intitulado Quebre a cadeia da madição hereditáia, publicado no Brasil pela Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno (Adhonep), em 1988, mostra que seus argumentos são baseados essencialmente em experiências humanas e em perversões exegéticas. A autora procura fundamentar suas idéias da maldição de família nos problemas de ordem espiritual da dinastia de Herodes. Quer provar que a natureza perversa e desnatural de Herodes, o Grande, foi passando de pai para filhos. Segundo ela, todos os seus descendentes foram afetados pelo pecado do pai.

Será que isso prova a doutrina da maldição de família? A resposta é não! Caim e Abel eram filhos dos mesmos pais, receberam a mesma educação religiosa, entretanto um era fiel e o outro, ímpio (1Jo 3.12). O que dizer de Jacó e Esaú? Eram irmãos gêmeos, educados em um mesmo lar, mas um tornou-se crente e o outro, profano (Ml 1.2 e Hb 12.16-17). Não existe na Bíblia registro de profeta ou apóstolo praticando ou ensinando a inovação defendida aqui pela autora, para quebrar a maldição de Caim, nem de Cão e nem de Esaú.

É óbvio que o ambiente em que vivem os filhos influencia muito na formação moral, psicológica e espiritual deles (Jr 13.23). É perfeitamente normal que as características dos pais passem para os filhos, tanto pelo convívio como pela hereditariedade genética e também espiritual. Assim, o exemplo da dinastia de Herodes, citado na referida obra, não se reveste de peso, é inconsistente. Isso é conseqüência genética e natural. Além disso, a dinastia de Herodes era uma família ímpia que não se converteu ao cristianismo. Colocar uma situação dessa como defesa da maldição hereditária é uma camisa-de-força.

A Bíblia ensina que a maldição dos pais não vai além da quarta geração: “Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”, Ex 20.5. Esse texto é muito conhecido, é o segundo mandamento do Decálogo. Interessante que essa passagem é contra a idéia da senhora Hickey, no entanto, ela mesma usou a referida passagem para dar consistência bíblica à sua doutrina.

Vinculando de maneira aleatória o segundo mandamento do Decálogo ao relato de Cão, descendente de Noé (Gn 9.24-27), Hickey concluiu: “Visto afirmar a Bíblia que ela é visitada até a quarta geração daqueles que o aborrecem – você poderá observar como ela recaiu sobre as gerações dos cananeus. Quando um pai pratica um pecado, seu filho o assimila. Estabelece-se logo uma fraqueza para pecar, e a velha natureza que vem do pai se transmite ao filho. Então vem o diabo e tenta o filho, e ele também cai”  (Grifo nosso). Isso não é verdade, pois nem sempre o filho assimila o pecado do pai. Há muitos exemplos na história dos reis de Israel e de Judá, registrados nos livros dos Reis e das Crônicas. O rei Amom “fez o que era mal aos olhos do Senhor” (2Cr 33.22), no entanto, o rei Josias, seu filho: “E fez o que era reto aos olhos do Senhor e andou nos caminhos de Davi, seu pai, sem se desviar deles nem para a direita nem para a esquerda” (2Cr 34.2).

O segundo mandamento do Decálogo diz que Deus visita a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que aborrecem a Deus. Quando alguém se converte a Cristo, deixa de aborrecer a Deus. Logo, essa passagem bíblica não pode se aplicar aos crentes (Rm 5.8-10), pois eles se tornaram novas criaturas, “as coisas velhas já passaram, e eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17).

A Bíblia ensina que a responsabilidade é pessoal. Havia em Israel um provérbio muito antigo: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”, Ez 18.2. Os hebreus usavam esse provérbio para lançar a culpa de seus pecados nos antepassados. “Uvas verdes” são os pecados e os “dentes embotados” são a conseqüência deles. Veja que Deus proibiu esse dito em Israel: “Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor Deus, que nunca mais direis esta parábola em Israel”, Ez 18.2-3.

Todo o capítulo 18 de Ezequiel gira em torno da responsabilidade individual do homem diante de Deus: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”, Ez 18.20. Não há espaço no cristianismo para essa crença estranha da maldição de família.

Outra tentativa para dar roupagem bíblica a essas inovações é a interpretação errônea do termo “espíritos familiares” (Lv 19.31; 20.6 e Is 8.19). A autora afirma que os espíritos familiares são “maus espíritos decaídos que se tornaram familiares numa família”.  Interessante é que a autora insinua que essas referências bíblicas só valem se olhada a versão inglesa do rei Tiago, King James Version, porque nela é usada a tradução “espíritos familiares” nas três passagens em apreço acima citadas.

A palavra hebraica usada para “espíritos familiares” é ’ôbh ou’ōbhôth, no plural. O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento registra o seguinte: “As traduções modernas têm uma variedade de termos. Dentre eles temos: médium, espírito, espírito de mortos, necromante e mágico”.  É a “técnica de necromancia rotulada de ventriloquismo. A Septuaginta (LXX) usa engastrimythos, ‘ventriloquismo’, em todas as passagens, exceto Isaías 29.4”.  Ela é traduzida na Vulgata Latina por magus, que significa “feiticeiro, médium”, e por python, “adivinho”, em Isaías 8.19 e 29.4.

O que a Bíblia chama de médium, necromante ou algo do gênero, a autora diz serem espíritos que passam de pais para filhos, na tentativa de substanciar uma doutrina extra-bíblica. 
 
Espíritos territoriais
 
Seus expositores fundamentam essa crença em experiências humanas, nos relatos de missionários e não na Palavra de Deus. Peter Wagner, no capítulo três do livro Espíritos territoriais, demonstra isso. Em resumo, a doutrina consiste na crença de que Satanás designou seus correligionários para cada país, região ou cidade. O Evangelho só pode prosperar nesses lugares quando alguém, cheio do Espírito Santo, expulsar esses espíritos malignos.

Em decorrência disso, surgiu a necessidade de uma geografia espiritual, daí o mapeamento espiritual. Os espíritos territoriais são identificados por nomes que eles mesmos teriam revelado com suas respectivas regiões que supostamente comandam.

O apóstolo Paulo diz que “o deus desse século cegou o entendimento dos incrédulos” (2Co 4.4). Peter Wagner usa o mesmo método das seitas no sentido de tirar conclusões em mera possibilidade. Ele julga ser possível considerar o termo “incrédulos” como “territórios”, sendo “nações, estados, cidades, grupos culturais, tribos, estruturas sociais” (pág. 72), e sobre essa falsa premissa constrói seu pensamento doutrinário.

Ainda de maneira sutil, procura fundamentar sua idéia nas palavras “príncipe do reino da Pérsia” (Dn 10.13) e “príncipe da Grécia” (Dn 10.20) para justificar o mapeamento espiritual. O capítulo três da citada obra apresenta até nomes desses supostos espíritos territoriais, os quais teriam se revelado a si mesmos, como Tata Pembele, Guarda dos Antepassados, Espírito de Viagens, entre outros. Narai seria o espírito chefe na Tailândia. Isso evidencia que os defensores da crença dos espíritos territoriais crêem na mensagem demoníaca, pois aceitam os supostos nomes e funções que esses espíritos dão a si mesmos. Isso é muito perigoso, pois Satanás é o pai da mentira (Jo 8.44).

Não existe vínculo entre a doutrina do mapeamento espiritual com a passagem de Daniel 10.13,20, pois o texto sagrado trata de guerra angelical, e não há indícios da presença humana. O profeta está completamente alheio a essa batalha, seu papel é outro.

Os promotores da doutrina dos espíritos territoriais costumam também citar a passagem do endemoninhado gadareno (Mc 5.10), quando o demônio, porta-voz da legião, “rogava muito que os não enviasse para fora daquela província”. Isso parece demonstrar, à primeira vista, que os promotores do tal ensino estão certos. Mas o texto deve ser interpretado à luz do contexto. A passagem paralela mostra que tal pedido aconteceu porque Jesus havia mandado os tais espíritos para o abismo: “E rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo”, Lc 8.31. Por isso, pediram para ficar na região. Não se trata, portanto, de espíritos territoriais. Essas inovações são perturbadoras e destoam completamente do pensamento do Novo Testamento.
 
Existem cristãos endemoninhados?
 
Esses pregadores da batalha espiritual defendem a prática de expulsar demônios de cristãos e isso como resultado de uma teologia distorcida. Segundo essa teologia, o homem seria um espírito que tem alma e habita um corpo. Isso é defendido por muitos líderes da Confissão Positiva, como Essek William Kenyon e Kenneth Hagin. Partindo desse falso conceito, afirmam que, na salvação, o Espírito Santo passa a habitar o espírito humano e os espíritos imundos “estão relegados à alma e ao corpo do cristão”.  Outros citam ainda passagens bíblicas como “O mau espírito da parte de Deus, se apoderou de Saul” (1Sm 18.10) e fraseologia similar (1Sm 19.9); Judas Iscariotes (Lc 22.3) e Ananias e Safira (At 5.1-10). Essas três passagens são interpretadas por eles de maneira distorcida.

Uma das características das seitas é reavaliar conceitos teológicos a fim de adaptá-los às suas crenças, fugindo do padrão ortodoxo. À luz da Bíblia, o homem é um ser metafísico e moral, feito à imagem e semelhança de Deus, constituído de corpo alma e espírito (Gn 1.26; 2.7; 1Ts 5.23). Alma e espírito são entidades imateriais, distintas um do outro, embora inseparáveis. O corpo é o invólucro material da alma e do espírito. O texto de Hebreus 4.12 fala da “divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas”. Isso refere-se às três partes distintas da constituição humana. A constituição bíblica do ser humano contraria o falso conceito da presença dos demônios no corpo e na alma do cristão.

O argumento sobre o estado espiritual e psicológico de Saul precisa ser analisado com muito cuidado. Há, de fato, quem afirme que ele ficou endemoninhado. Os que defendem essa linha de pensamento sustentam que Deus deu permissão aos demônios para atormentarem Saul, assim como permitiu ferir o patriarca Jó (1.12). Se isso puder ser confirmado, deve-se levar em conta que Saul, nessa época, estava desviado. Deus o havia rejeitado por causa de sua desobediência (1Sm 15.23). Além disso, o texto bíblico não afirma que Saul ficava endemoninhado. É dito que o Espírito Santo retirou-se dele e que “o assombrava um espírito mau da parte do Senhor” (1Sm 16.14). Trata-se de um espírito da parte de Deus e não de Satanás. De qualquer forma, é muito temerário usar tal passagem bíblica para fundamentar uma doutrina dessa.

O exemplo de Judas Iscariotes é inconsistente. A Bíblia revela, de fato, que Judas Iscariotes foi possesso, mas é como disse Paulo Romeiro: “Dizer que ele foi um cristão é forçar demais o texto bíblico, e nem foi essa a opinião do Senhor sobre ele”.  O Senhor Jesus disse que Judas Iscariotes era “um diabo” (Jo 6.70), e que não estava limpo (Jo 13.10-11). O texto sagrado revela ainda que ele era ladrão (Jo 12.6).

A passagem de Ananias e Safira não confirma também essa doutrina, pois o texto sagrado afirma que Ananias e Safira mentiram, e não que ficaram possessos ou endemoninhados. O acontecido é que eles não vigiaram e por isso agiram sob influência de Satanás. Eles mentiram ao Espírito Santo (At 5.3). Isso pode acontecer com um cristão vacilante, e não é possessão maligna, por isso devemos orar e vigiar para não cairmos em tentação. Disse Jesus: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”, Mt 26.41.

O Senhor Jesus disse que todos os espíritos demoníacos deixam o corpo da pessoa que se converte ao Evangelho (Lc 11.24). O tal corpo fica varrido e adornado, obra do Espírito Santo (Lc 11.25). A Bíblia ensina ainda que o corpo do cristão é templo do Espírito Santo (1Co 6.19) e que corpo, alma e espírito do cristão “pertencem a Deus” (1Co 6.20). Nós temos promessas de Deus de que o maligno não nos toca: “O que de Deus é gerado conserva-se a sim mesmo, e o maligno não lhe toca”, 1Jo 5.18. O cristianismo baseia-se na Bíblia e não em experiências humanas contrárias às Escrituras Sagradas.
 
Na balança
 
Colocando na balança os erros e acertos da Teologia da Batalha Espiritual pregada em nossos dias, muito pouco se tem de positivo. A maior parte é praticamente neutralizada pelos seus malefícios. O incentivo à oração e à dependência divina é um ótimo estímulo ao cristão. Mas, o povo de Deus está habituado à oração sem essas inovações da batalha espiritual.

À luz da Bíblia, essa teologia é falsa e perniciosa e vem trazendo muita confusão nas igrejas. Outro problema sério: a tal teologia fascina os evangélicos de maneira assustadora, mais que qualquer outro assunto teológico. Os livros nessa área, sobre reavivamentos satânicos, sobre experiências satânicas, de testemunhos e visões sobre o reino das trevas, são campeões de vendas, cuja leitura não recomendamos, pois em nada edifica o Corpo de Cristo.
 
Esequias Soares é ministro evangélico, professor de Teologia, comentarista de Lições Bíblicas, escritor e líder da Comissão de Apologia da CGADB.
AS RAIZES HISTÓRICAS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
O evangelicalismo brasileiro apresenta características apreciáveis e preocupantes. Entre estas últimas está o gosto por novidades. Líderes e fiéis sentem que, para manter o interesse pelas coisas de Deus, é preciso que de tempos em tempos surja um ensino novo, uma nova ênfase ou experiência. Geralmente tais inovações têm sua origem nos Estados Unidos. Assim como outros países, o Brasil é um importador e consumidor de bens materiais e culturais norte-americanos. Isso ocorre também na área religiosa. Um movimento de origem americana que tem tido enorme receptividade no meio evangélico brasileiro desde os anos 80 é a chamada teologia da prosperidade. Também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé” e “evangelho da saúde e da prosperidade”. A história das origens desse ensino revela aspectos questionáveis que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele.Que devem servir de alerta para os que estão fascinados com ele. Ao contrário do que muitos imaginam, as idéias básicas da confissão positiva não surgiram no pentecostalismo, e sim em algumas seitas sincréticas da Nova Inglaterra, no início do século 20. Todavia, por causa de algumas afinidades com a cosmovisão pentecostal, como a crença em profecias, revelações e visões, foi em círculos pentecostais e carismáticos que a confissão positiva teve maior acolhida, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A história de seus dois grandes paladinos irá elucidar as raízes dessa teologia popular e mostrar por que ela é danosa para a integridade do evangelho.
Embora os adeptos da teologia da prosperidade considerem Kenneth Hagin o pai desse movimento, pesquisas cuidadosas feitas por vários estudiosos, como D. R. McConnell, demonstraram conclusivamente que o verdadeiro originador da confissão positiva foi Essek William Kenyon (1867-1948). Esse evangelista de origem metodista nasceu no condado de Saratoga, Estado de Nova York, e se converteu na adolescência. Em 1892 mudou-se para Boston, onde estudou no Emerson College, conhecido por ser um centro do chamado movimento “transcendental” ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação duvidosa. Uma das influências recebidas e reconhecidas por Kenyon nessa época foi a de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã. Kenyon iniciou o Instituto Bíblico Betel, que dirigiu até 1923. Transferiu-se então para a Califórnia, onde fez inúmeras campanhas evangelísticas. Pregou diversas vezes no célebre Templo Angelus, em Los Angeles, da evangelista Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pastoreou igrejas batistas independentes em Pasadena e Seattle e foi um pioneiro do evangelismo pelo rádio, com sua “Igreja do Ar”. As transcrições gravadas de seus programas serviram de base para muitos de seus escritos. Cunhou muitas expressões populares do movimento da fé, como “O que eu confesso, eu possuo”. Antes de morrer, em 1948, encarregou a filha Ruth de dar continuidade ao seu ministério e publicar seus escritos.

Quais eram as crenças dos tais grupos metafísicos? Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um dos seus aspectos. Mais ainda, a mente humana pode controlar a esfera espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas idéias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação.

O grande divulgador dos ensinos de Kenyon, a ponto de ser considerado o pai do movimento da fé, foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Ele nasceu em McKinney, Texas, com um sério problema cardíaco. Teve uma infância difícil, principalmente depois dos 6 anos, quando o pai abandonou a família. Pouco antes de completar 16 anos sua saúde piorou e ele ficou confinado a uma cama. Teve então algumas experiências marcantes. Após três visitas ao inferno e ao céu, converteu-se a Cristo. Refletindo sobre Marcos 11.23-24, chegou à conclusão de que era necessário crer, declarar verbalmente a fé e agir como se já tivesse recebido a bênção (“creia no seu coração, decrete com a boca e será seu”). Pouco depois, obteve a cura de sua enfermidade. Em 1934 Hagin começou seu ministério como pregador batista e três anos depois se associou aos pentecostais. Recebeu o batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. No mesmo ano foi licenciado como pastor das Assembléias de Deus e pastoreou várias igrejas no Texas. Em 1949 começou a envolver-se com pregadores independentes de cura divina e em 1962 fundou seu próprio ministério. Finalmente, em 1966 fez da cidade de Tulsa, em Oklahoma, a sede de suas atividades. Ao longo dos anos, o Seminário Radiofônico da Fé, a Escola Bíblica por Correspondência Rhema, o Centro de Treinamento Bíblico Rhema e a revista “Word of Faith” (Palavra da Fé) alcançaram um imenso número de pessoas. Outros recursos utilizados foram fitas cassete e mais de cem livros e panfletos.
Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus Cristo nos anos 50, bem como diversas outras experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos lhe foram transmitidos diretamente pelo próprio Deus mediante revelações especiais. Todavia, ficou comprovado posteriormente que ele se inspirou grandemente em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros desse antecessor. Em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, D. R. McConnell demonstrou que muito do que Hagin afirmou ter recebido de Deus não passava de plágio dos escritos de Kenyon. A explicação bastante suspeita dada por Hagin é que o Espírito Santo havia revelado as mesmas coisas aos dois. Reflexos no Brasil
Os ensinos de Hagin influenciaram um grande número de pregadores norte-americanos, a começar de Kenneth Copeland, seu herdeiro presuntivo. Outros seguidores seus foram Benny Hinn, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Hobart Freeman, Jerry Savelle e Paul (David) Yonggi Cho, entre outros. Em 1979Doyle Harrison, genro de Hagin, fundou a Convenção Internacional de Igrejas e Ministros da Fé, uma virtual denominação. Nos anos 80, os ensinos da confissão positiva e do evangelho da prosperidade chegaram ao Brasil. Um dos primeiros a difundi-lo foi Rex Humbard. Marilyn Hickey, John Avanzini e Benny Hinn participaram de conferências promovidas pela Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep). Outros visitantes foram Robert Tilton e Dave Robertson. Entre as primeiras manifestações do movimento estavam a Igreja do Verbo da Vida e o Seminário Verbo da Vida (Guarulhos), a Comunidade Rema (Morro Grande) e a Igreja Verbo Vivo (Belo Horizonte). Alguns líderes que abraçaram essa teologia foram Jorge Tadeu, das Igrejas Maná (Portugal); Cássio Colombo (“tio Cássio”), do Ministério Cristo Salva, em São Paulo; o “apóstolo” Miguel Ângelo da Silva Ferreira, da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro, e R. R. Soares, responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Talvez a figura mais destacada dos primeiros tempos tenha sido a pastora Valnice Milhomens, líder do Ministério Palavra da Fé, que conheceu os ensinos da confissão positiva na África do Sul. As igrejas brasileiras sofreram o impacto de uma avalanche de livros, fitas e apostilas sobre confissão positiva. Ricardo Gondim observou em 1993: “Com livros extremamente simples, [Hagin] conseguiu influenciar os rumos da igreja no Brasil mais do que qualquer outro líder religioso nos últimos tempos”. Conclusão
Além de apresentar ensinos questionáveis sobre a fé, a oração e as prioridades da vida cristã, e de relativizar a importância das Escrituras por meio de novas revelações, a teologia da prosperidade, através dos escritos de seus expoentes, apresenta outras ênfases preocupantes no seu entendimento de Deus, de Jesus Cristo, do ser humano e da salvação. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais norte-americanas se posicionaram oficialmente contra os excessos desse movimento (Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e Igreja de Deus). Autores como Charles Farah, Gordon Fee, D. R. McConnell e Hank Hanegraaff, todos simpatizantes do movimento carismático, escreveram obras contestando a confissão positiva e suas implicações. Eles destacaram como, embora essa teologia pareça uma maneira empolgante de encarar a Bíblia, ela se distancia em pontos cruciais da fé cristã histórica.

No Brasil, três obras significativas publicadas em 1993 -- “O Evangelho da Prosperidade”, de Alan B. Pieratt; “O Evangelho da Nova Era”, de Ricardo Gondim; e “Supercrentes”, de Paulo Romeiro -- alertaram solenemente as igrejas evangélicas para esses perigos. Tristemente, vários grupos, principalmente os que têm maior visibilidade na mídia, estão cada vez mais comprometidos com essa teologia desconhecida da maior parte da história da igreja. Ao defenderem e legitimarem os valores da sociedade secular (riqueza, poder e sucesso), e ao oferecerem às pessoas o que elas ambicionam, e não o que realmente necessitam aos olhos de Deus, tais igrejas crescem de maneira impressionante, mas perdem grande oportunidade de produzir um impacto salutar e transformador na sociedade brasileira.
onte: Texto publicado na Revista Ultimato, Edição nº 313, Julho/Agosto de 2008, por Alderi Souza de Matos, doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Uma Análise dos Evangélicos Hoje - Entrevista a Revista Eclésia

Trancrevo aqui entrevista concedida à revista Eclésia e que foi publicada neste último número. É uma entrevista bem extensa que abordou muitos e variados assuntos. Acredito que reflete de maneira justa a realidade das igrejas evangélicas no Brasil hoje.

ECLÉSIA: Ateus são aqueles que não crêem em Deus. De que maneira pode existir um “ateísmo cristão”, justamente o título de seu último livro?
O apóstolo Paulo se refere àqueles que professam conhecer a Deus e que,  entretanto, o negam por suas obras (Tito 1:16). Chamo de ateísmo cristão a negação de que Deus interfere, age e atua na realidade humana, negação esta feita por pessoas que se professam cristãs e que argumentam usando a terminologia cristã. Na verdade, isto nada mais é que o antigo deísmo, a idéia de que Deus existe mas que não interfere na realidade humana. O deísmo foi a religião dos antigos liberais e continua, ligeiramente modificada, sendo a teologia dos novos liberais. Para mim, admitir a existência de Deus mas negar sua presença na história e na experiência humana é a mesma coisa, ao final, que o ateísmo – só que com capa de cristianismo.

ECLÉSIA: Há quem acredite que o Brasil esteja experimentando um avivamento por causa do crescimento dos evangélicos. Mas o senhor diz que a Igreja sofre sérias ameaças. Isso não é uma contradição?

No meu caso não é uma contradição porque eu nunca afirmei que o Brasil está experimentando um avivamento espiritual. O que constato é o crescimento nas duas últimas décadas das seitas neopentecostais, que a mídia costuma confundir com os evangélicos. Eu sei que há pessoas que são verdadeiramente crentes no Senhor Jesus nesse meio, em que pesem os ensinamentos e práticas estranhos ao Evangelho. Todavia, isto não diminui a ameaça que o movimento representa para a igreja cristã.

ECLÉSIA: Ainda falando sobre o crescimento evangélico, o segmento mais conhecido hoje é neopentecostal. E, talvez pelo aparente sucesso, talvez pelo poder midiático, tem influenciado com práticas e estilos de culto denominações pentecostais e históricas. Esse processo não é irreversível?
Não sei se é irreversível. Este crescimento vem diminuindo nos últimos anos, pois a proposta das igrejas neopentecostais não se sustenta por muito tempo. Cedo ou tarde as promessas da teologia da prosperidade se mostram vazias, gerando uma multidão de decepcionados que vão engordar as fileiras dos desigrejados. Percebe-se, também, a crescente separação e distanciamento destes movimentos neopentecostais do pentecostalismo clássico e das igrejas históricas, o que é muito bom, pois deixa a diferença entre nós e eles mais clara. Infelizmente, a influência das práticas neopentecostais nas igrejas históricas tem feito e continuará a fazer, por algum tempo, considerável estrago. A culpa, em parte, é das lideranças que não prepararam o povo adequadamente para enfrentar estes erros. Mas, a responsabilidade é principalmente dos pastores de igrejas históricas que traindo e abandonando os compromissos que fizeram por ocasião de sua consagração e ordenação, adotaram eles mesmos estas práticas estranhas ao cristianismo histórico, no afã de crescer, ganhar adeptos e aumentar o seu ministério. E não podemos esquecer que se as seitas neopentecostais têm um grande volume de adeptos, isto se deve também ao fato de que tem muita gente interessada em Deus por motivos errados, como saúde, prosperidade e sucesso, deixando a razão maior para trás, que é a glória do próprio Deus.  

ECLÉSIA: Os últimos números das pesquisas apontam para um aumento grande do número de pessoas que acreditam em Deus mas não tem uma religião específica. Ou, pelo menos, que não estão em uma denominação evangélica. Provavelmente, porque já estiveram e saíram. Quem é o maior culpado por isso: os abusos cometidos pelos líderes ou o triunfalismo pregado dos púlpitos e que, na prática, não alcança resultados?
Acho que as duas coisas. E devemos nos humilhar e nos penitenciar diante de Deus por isto. Mas eu ainda acrescentaria uma terceira razão, que é a tendência do coração humano de não se sujeitar à disciplina, liderança, governo espiritual e a seguir normas e regras. As igrejas cristãs – pelos menos as sérias –  são organizadas de acordo com o padrão bíblico, têm uma liderança espiritual constituída e seguem normas encontradas na Palavra de Deus. Obviamente nem todo mundo tem disposição para fazer parte de uma comunidade onde ficará sujeito a cobranças, questionamentos e perguntas sobre sua vida individual, sobre seu comportamento, hábitos e decisões. Ou seja, muita gente que se considera evangélica não quer a responsabilidade inerente à membresia de uma igreja séria. Em resumo, o crescimento do número dos desigrejados se dá tanto pela falha da igreja organizada quanto pela rebeldia de boa parte dos próprios desigrejados.

ECLÉSIA: Em seu último livro, o senhor aborda temas como o fato do crente ficar ou não doente e a prática de expulsar o diabo. Particularmente, o senhor já viu casos escabrosos ou até esteve presente diante de práticas estranhas e que o motivaram a escrever sobre isso? Pode falar sobre elas?
Sobre crentes ficarem doentes, não creio que precisemos dar evidências e provas disto. É claro que ficam. E nem sempre é falta de fé, resultado de um pecado específico ou demonização. Já orei por gente que ficou boa e também por gente que morreu em seguida. É Deus quem cura, quando quer e se quiser. Já me deparei com diversos casos de possessão demoníaca em meu ministério. Alguns deles, verifiquei em seguida, não se tratavam realmente de possessão. Mas pelo menos dois deles só consigo explicar como sendo casos reais de possessão demoníaca. Acredito que a possessão demoníaca é uma realidade em nossos dias, mas não acredito que tudo que se considera como tal, nas igrejas neopentecostais, é de fato possessão. Há muita mistificação e engano, muita confusão de sintomas de doenças mentais e distúrbios psicológicos com demonização.

ECLÉSIA: Mas batalha espiritual é um assunto bíblico. Só que o senhor já disse que esse conceito foi contaminado pelo paganismo que se infiltrou no meio eclesiástico. Como assim?
Sem dúvida, a batalha espiritual é um assunto totalmente bíblico. Paulo nos diz em Efésios 6 que nossa luta real é contra os principados e potestades, as forças espirituais do mal nos lugares celestiais. Não tenho dúvidas quanto a isto. Satanás é real e suas tentações e seu poder são reais. Ele está presente e ativo no planeta Terra, como já disse alguém. O problema não é este, mas sim como enfrentamos Satanás e suas forças. O moderno movimento de batalha espiritual ensina conceitos e práticas que não encontram fundamentação bíblica, como quebra de maldições, espíritos territoriais, oração de guerra, mapeamento espiritual, cobertura espiritual, demônios associados com doenças específicas, associação dos nomes das divindades pagãs do umbandismo com espíritos malignos determinados, - enfim, a lista é grande. Procuramos em vão no relato bíblico da vida e obra de Jesus e dos apóstolos evidências de que eles faziam mapeamento espiritual, demarcação de território, amarração de potestades, quebra de maldições. Para mim, a igreja não deve adotar práticas que não sejam claramente apoiadas pela Escritura. A fonte de autoridade para estas práticas no movimento de batalha espiritual não é a Bíblia, mas declarações de pessoas endemoninhadas, sonhos, visões, palavras proféticas, supostas revelações e outras fontes subjetivas que acabam tomando o lugar da Palavra de Deus na vida do crente e da igreja. Isso tudo abre a porta para a entrada de crendices, misticismo e paganismo na igreja.

ECLÉSIA: Por outro lado, o senhor diz que não é totalmente contra o Natal. Mas essa festa não tem origens e práticas pagãs, como a própria árvore e as luzinhas? Não seria uma contradição?
As festividades natalinas modernas com árvore de natal, luzinhas, Papai Noel, ceia com peru, troca de presentes e onde nem se menciona o nome de Jesus Cristo são claramente uma prática não cristã. A origem desta prática realmente é pagã, mas não a idéia de celebramos o nascimento do nosso Salvador Jesus Cristo. Se os anjos se alegraram com o nascimento dele, formando um coral celestial para entoar louvores a Deus, se os pastores e os magos foram adorá-lo e se a encarnação de Deus Filho é considerada na Bíblia um evento crucial da história da salvação – sem o qual não haveria sua morte e a sua ressurreição – vejo como perfeitamente cristão celebrar o nascimento do Salvador. Como não sabemos a data exata de seu nascimento, seguimos a antiga convenção cristã de fazê-lo no dia 25 de dezembro. Poderia ser em outro dia qualquer. Natal não é dia santo.

ECLÉSIA: As igrejas por aqui geralmente são acusadas de copiar tudo dos Estados Unidos. De bom e de ruim. Inclusive, práticas espirituais, demonizando a cultura nacional. De que maneira podemos forjar uma espiritualidade bíblica e ao mesmo tempo brasileira?
É um equívoco demonizar a cultura brasileira – ou outra qualquer – como um todo. Como calvinista, creio na graça comum, isto é, que Deus abençoa as pessoas com habilidade e capacidade para fazerem arte, música, cultura, descobertas científicas, mesmo aquelas que não o conhecem e até o negam. Portanto, encontraremos em qualquer cultura coisas boas que refletem a bondade do Criador. Além disto, a verdadeira espiritualidade não tem nacionalidade e transcende as barreiras geográficas e étnicas. Os profetas  e os apóstolos eram judeus e viveram numa cultura antiga que já nem existe mais, o Antigo Oriente. Todavia, a espiritualidade deles é a base da nossa. A verdadeira espiritualidade consiste em viver neste mundo de acordo com a vontade de Deus revelada nas Escrituras. E isto nos Estados Unidos, no Brasil ou na China. É claro que o homem espiritual haverá de adaptar-se à sua cultura, mas a base e a fonte de sua espiritualidade sempre será a pessoa de Jesus Cristo, conforme revelada nas Escrituras. Isto não significa negar que se copia muita coisa aqui, não só dos Estados Unidos, mas da Coréia, por exemplo. Todavia, se o que os crentes americanos estão fazendo é biblicamente correto e saudável, qual é o problema em aprender com eles ou com crentes da China e da África? Tem muito nacionalismo irracional no meio evangélico. Tem gente que fala de teologia brasileira, louvor brasileiro, espiritualidade brasileira como se fosse possível isolar este ente etéreo chamado “brasilianidade” da cultura global em que vivemos hoje. As próprias culturas em que a Bíblia nasceu e foi escrita eram misturadas. Copiavam-se práticas, costumes e tradições. Não vejo nenhum problema em aproveitar o que cristãos de outros países fazem certo, desde que o critério final seja a coerência e a conformidade com as Escrituras.

ECLÉSIA: Qual a maior ameaça à Igreja brasileira: as inovações neopentecostais, o liberalismo, o fundamentalismo, o teísmo aberto ou as novas tentativas de reforma?
Cada um destes movimentos representa uma ameaça em seus próprios termos. Eu diria que o liberalismo teológico e as inovações pentecostais são as mais perigosas pelo volume de adeptos e pelo radicalismo. O teísmo aberto é um movimento praticamente defunto no Brasil, pois não encontrou respaldo quer entre os calvinistas, quer entre os arminianos, em razão de negar uma doutrina preciosa para ambos, que é a onisciência de Deus.

ECLÉSIA: Ultimamente os emergentes e grupos que combatem a aridez e os modismos de grandes denominações aparecem como opção para uma nova espiritualidade. O que o senhor pensa dela?
Existem vários tipos de emergentes. Há um movimento dentro dos emergentes que se identifica com o liberalismo teológico e sobre este movimento a minha opinião é a mesma que tenho sobre os liberais. Mas há um movimento emergente que quer manter o compromisso com as doutrinas centrais da Palavra de Deus, com a pregação bíblica, com uma vida pautada pelas normas cristãs de amor ao próximo e santidade de vida. E ao mesmo tempo, querem ser relevantes para sua geração. Eles defendem um culto diferente dos cultos das igrejas tradicionais, mais informal, com música contemporânea e uma ordem litúrgica menos elaborada. Há inclusive um movimento vigoroso de reapreciação pela teologia e práxis da Reforma protestante, que vem exercendo muita influência nas igrejas históricas e nas pentecostais. Eu vejo com muita simpatia este movimento.

ECLÉSIA: Falando em debate e em polêmica, recentemente houve uma discussão pelas redes sociais entre o bispo Edir Macedo, líder da IURD, e a cantora e pastora batista Ana Paula Valadão sobre as manifestações do Espírito Santo. Um dizia que só cai no chão quem é endemoninhado. A outra, que alguém que recebe a unção de Deus pode cair. Como o senhor vê esse debate?
Não acompanhei esta discussão, mas estou familiarizado com o assunto. Estive a muitos anos na Igreja do Aeroporto, em Toronto, da Vineyard, onde começou o movimento da “bênção de Toronto,” que é onde nasceu esta prática de “cair no Espírito.” Estranhei bastante o que vi lá, pois ao comparar as quedas com os relatos de quedas na Bíblica ficava evidente o contraste. Na Bíblia, as pessoas que caíram diante da presença de Deus caíram sobre seus rostos e joelhos, não de costas. Caíram diante do descobrimento do seu próprio pecado, da santidade de Deus ou da glória de Cristo. Em nenhuma destas ocorrências as quedas aconteceram por causa de unção com óleo ou imposição de mãos dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. E não encontramos em lugar nenhum da Bíblia qualquer orientação para os crentes sobre este assunto. No caso dos endemoninhados, também não há qualquer registro de gente endemoninhada caindo quando Jesus ou os apóstolos lhes impuseram as mãos. Sempre, o que havia, era a expulsão imediata dos demônios, sem muita conversa. Assim, se eu for tomar a Bíblia como referencial, eu diria que não temos como demonstrar biblicamente que pessoas cheias do Espírito caem no chão e nem que endemoninhados caem no chão na hora do exorcismo.

ECLÉSIA: Já se falou muito em dentes de ouro, risada santa e até em adoração extravagante. Que modismos estão afetando atualmente a Igreja e com quais crentes e lideranças devem ficar atentos?
A lista é grande demais para caber aqui numa entrevista destas... sugiro que consultem o blog do Pr. Renato Vargens, que documenta em detalhes estes modismos.

ECLÉSIA: Em partes tudo isso também não é culpa das lideranças e da formação que elas recebem nas faculdades teológicas? Ou da falta de formação para quem não estuda? Um de seus textos, no último livro, questiona por que tantos seminaristas perdem a fé...
Sem dúvida. Quando um pastor desconhece a história da igreja, a história das doutrinas, a teologia bíblica e teologia sistemática, quando ele não tem nem mesmo as noções mais básicas de grego e de hebraico, quando lhe falta o conhecimento dos grandes credos e confissões da igreja cristã, desconhece as polêmicas teológicas e a obra dos grandes vultos da Igreja Cristã, sua tendência será levar avante o seu ministério na base do improviso, da intuição e do pragmatismo. Ele vai usar como modelo aquelas instituições religiosas que aparentemente conseguiram sucesso em arrebanhar pessoas. Pior ainda, se nos seminários e institutos bíblicos ele teve professores liberais, sairá no mínimo um pastor confuso, incerto e sem convicção sobre nada – e portanto aberto a todo tipo de prática e crença que lhe garanta a posição e o sustento.

ECLÉSIA: Há pouco tempo, o país enfrentou o debate sobre o ensino do criacionismo nas escolas. Depois, a discussão foi sobre o ensino religioso. Como chanceler de uma das mais importantes universidades confessionais brasileiras, de que forma vê a questão?
Esse assunto é muito complexo. A Constituição brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases reconhecem a educação confessional, que é aquela feita por instituições de ensino que se orientam por uma ideologia específica. Portanto, instituições de ensino confessionais têm liberdade de ensinar sua ideologia desde que cumpram satisfatoriamente os requisitos e parâmetros curriculares determinados pelo MEC. Não creio que se deva abolir o ensino do evolucionismo nas escolas confessionais. Mas creio que ao lado do evolucionismo se deveria mostrar que existe outra opinião, defendida por cientistas renomados e sérios, quanto à questão da origem das espécies, como, por exemplo, a teoria do Design Inteligente. Isto cumpriria perfeitamente o ideal de pluralidade que se espera de uma escola e de uma universidade. Como está, apenas uma posição é ensinada, como se a mesma não fosse contestada por muitos. É uma ilusão pensar que o ensino pode ser feito de maneira isenta, neutra ou cientificamente laica. Não existe isto. Toda educação parte de uma visão de mundo pré-concebida. Se não for uma cosmovisão religiosa, será uma materialista, humanista, naturalista ateísta, marxista... Portanto, o ensino confessional cristão tem legitimidade. Sobre o ensino religioso, acho que num país onde cerca de 90% da população diz crer em Deus e estar afiliada a alguma religião por si só já é argumento suficiente para não se ignorar a dimensão religiosa e o papel importante que ela desempenha na vida dos brasileiros. 

ECLÉSIA: Universidades confessionais têm enfrentado várias crises nos últimos tempos. Tome-se como exemplo a PUC de São Paulo e a Ulbra do Rio Grande do Sul. Não estão administrando o ensino como tomam conta das igrejas? Como o senhor avalia a situação das escolas confessionais e o que o Mackenzie tem a ensinar sobre o assunto?
Eu diria apenas que o setor educacional privado no Brasil, como um todo, atravessa profundas dificuldades administrativas, financeiras e estruturais. As instituições confessionais de ensino, inclusive as universidades confessionais também são atingidas, algumas mais, outras menos. Os desafios são muito grandes.

ECLÉSIA: Recentemente, o Mackenzie foi alvo de protestos por parte de ativistas homossexuais por conta de um texto em seu site que criticava o PLC 122/06. Como o senhor vê esse debate sobre o casamento gay no Brasil? Os evangélicos não correm sérios riscos de serem submetidos a uma mordaça?
É preciso esclarecer os fatos. O que foi publicado no site do Mackenzie nada mais era que o posicionamento da Igreja Presbiteriana do Brasil tomado em 2007 pelo seu Supremo Concílio. Estava no site do Mackenzie desde aquele ano, pois a IPB é a Associada Vitalícia da instituição e suas decisões precisam ser conhecidas. É claro que toda violência feita a um homossexual deve ser punida. Quem agride gays deve ser preso e responder a processo. Aliás,  quem agride qualquer cidadão brasileiro, independentemente de sua escolha sexual, deve ser preso. É lamentável quando jovens saem às ruas de noite para espancar gays e travestis. Não podemos concordar jamais com este tipo de atitude – da mesma forma que não podemos concordar com agressões feitas a qualquer pessoa. Acredito que as pessoas têm o direito de escolher o tipo de vida que desejam levar e que não deveriam agredir nem afrontar quem pensa diferente. A Constituição Brasileira garante o direito à liberdade de consciência, religião e expressão. Assim sendo, não posso apoiar nenhum projeto que intente dar direitos especiais a um grupo de brasileiros em detrimento da liberdade de consciência, expressão e religião de outros. Sobre o casamento gay, é claro que sou contra, pois além do conceito ser contrário às minhas convicções cristãs, considero-o um fator de risco para a família. Quanto à mordaça sobre os evangélicos, é bem possível que venha a acontecer, mas a Igreja cristã nunca deixou de cumprir o seu papel de anunciar o perdão de Deus aos pecadores arrependidos mesmo em sociedades hostis, como no primeiro século da era cristã, sob o Império Romano. Lá não tinha mordaça, mas leão, cruz e espada para os dissidentes.

ECLÉSIA: Há pouco, quem esteve no Mackenzie foi John Piper, participando de debates que tiveram sua presença e a de Russel Shedd. Nos últimos anos, a universidade tem sido palco de congressos e grandes eventos que atraíram importantes nomes da fé cristã. De que maneira isso ajuda no amadurecimento da fé evangélica no país?
A realização destes eventos só é possível por causa do apoio da alta direção do Mackenzie, que é composta de cristãos sérios e comprometidos com a qualidade da educação e a visão cristã de mundo. A visão deles, da qual sou um dos executores como Chanceler, é de que o Mackenzie deve contribuir para a sociedade não somente oferecendo ensino de alta qualidade, como vem fazendo há décadas, mas também mostrando que o Cristianismo não exige que abandonemos a intelectualidade, a erudição, a cultura e o bom senso. Por isto, trazemos nomes de peso mundial para nos falar. Para o ano que vem (2012) planejamos trazer Dra. Nancy Pearcey, renomada historiadora da ciência, Dr. W. Lane Craig, um dos apologetas cristãos mais conhecidos hoje, que atua junto às grandes universidades do mundo, Dr. Michael Behe, cientista e biólogo renomado e considerado o pai da teoria do Design Inteligente, além do Pr. Paul Washer, um dos pregadores mais conhecidos dentre aqueles cujo ministério é voltado para os jovens.

ECLÉSIA: O senhor é um entusiasta da internet. Seus textos no blog já viraram até livro. A Igreja tem aproveitado bem a tecnologia e as redes sociais? Ou o mundo virtual é mais uma ameaça à fé do real?
A igreja tem aproveitado bem a tecnologia e as redes sociais. Os evangélicos têm presença marcante nas mídias sociais. Mas, é claro, esta participação pode melhorar, com a inserção de material mais sólido, sério, e que tenha potencial para formar esta nova geração. Portanto, não vejo a tecnologia como uma ameaça – desde que corretamente usada, como tudo o mais na vida.

ECLÉSIA: O senhor é reverendo presbiteriano mas tem trânsito entre várias correntes e denominações. Durante muito tempo, a Igreja Presbiteriana foi criticada por ser fechada. Isso está mudando?
No que tange à minha denominação, não creio que a Igreja Presbiteriana do Brasil tenha sido fechada no passado. Os presbiterianos sempre foram abertos para os irmãos de denominações reconhecidamente evangélicas. Não rebatizamos quem vem destas denominações e servimos a Ceia a todos os que são membros de igrejas evangélicas. Não temos proibição de convidarmos pregadores de outras denominações para nossos púlpitos e nem de participarmos de eventos conjuntos com eles. O que realmente não concordamos é com aqueles que se dizem cristãos mas negam a inerrância da Palavra de Deus, os milagres da Bíblia, a ressurreição de Cristo e sua morte vicária. Também queremos distância das práticas neopentecostais e das seitas. Quanto à minha pessoa, se tenho algum trânsito em outros setores evangélicos isto talvez se deva à principal ênfase do meu ministério, que é pregar expositivamente a Palavra de Deus. Evangélicos de todas as denominações amam a Bíblia e gostam de ouvir explicações sobre ela feitas com simplicidade e clareza.

ECLÉSIA: Sua trajetória pessoal é pontuada por uma sólida formação acadêmica. Sempre que isso acontece, surge o questionamento: como conciliar conhecimento com uma fé viva e dinâmica. Qual é seu segredo? O que diria para jovens ministros que estão começando a carreira e não querem deixar de crer diante de uma Igreja com tantos problemas?
Conhecimento e fé viva não são opostos e nem inimigos. Essa dicotomia é resultado da visão iluminista e racionalista de mundo que prevalece na cultura ocidental desde o século dezoito, que estabeleceu a razão como o critério final da realidade. Antes disto, este conflito estava ausente na vida dos grandes cientistas que nos deram a moderna ciência e que eram, na maior parte, cristãos. Todo conhecimento pressupõe um princípio unificador que serve de orientação e sustentação. A crença na existência de um Deus criador, que é amor e justiça, santidade e misericórdia, que fez o mundo segundo princípios e leis e criou o ser humano à sua imagem, funciona perfeitamente como princípio unificador para o conhecimento. Sendo assim, meu conselho aos jovens pastores é que cultivem a sua mente com a mesma energia com que cultivam a sua vida devocional. Estudem, pesquisem, escrevam, perguntem, discutam. Procurem não somente uma sólida formação espiritual como também bíblico-teológica-geral.