terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Globalização: Os Guinness e as grandes perguntas deste século


Como já apontado em outros textos do blog, o Dr. Os Guinness esteve no III Congresso Internacional de Ética e Religião, no Mackenzie. No dia 11 de setembro, dia bem marcado no calendário mundial por conta dos ataques terroristas ao World Trade Center a ao Pentágono, nos Estados Unidos, o Dr. Os Guinness falou sobre o tema da globalização. Gostei muito da abordagem feita e tomei algumas notas, que depois foram comparadas com outras anotações (especialmente da sra. Betty Portela) e que estão colocadas abaixo. Logo, o que você encontrará aqui é um esboço do que foi falado naquele dia, com alguns ‘enxertos’ explicativos aqui e acolá, em vermelho.

A título de introdução, Os Guinness apontou que “todo século traz suas grandes perguntas”, sendo que as grandes perguntas do século XXI são:

1. O islã vai se modernizar pacificamente?”
O islamismo é crescente e ainda que muitos afirmem que a religião islâmica seja de paz, o radicalismo islâmico tem demonstrado o contrário. Além disto, a cosmovisão islâmica, em geral, insiste em “permanecer no passado” e se recusa a passar pelo processo de modernização.

2. O que substituirá a ideologia marxista na China?
Ainda que o regime chinês seja de ideologia marxista, há muito que o estado e a população da China encontram-se em meio à prática do capitalismo e em busca do mercado de capitais. Não há mais lugar para esta ideologia e resta a grande dúvida sobre o que virá a substituir o marxismo. Há tendências religiosas no pais, inclusive um movimento crescente do cristianismo, assim como de muitas outras religiões.

3. A cultura ocidental recuperará as suas raízes judaico- cristãs?
O ocidente, como o conhecemos, formou-se no berço da cosmovisão judaico-cristã. Vemos, no entanto, que tanto a Europa quanto a América caminham na direção de uma visão de mundo ‘pós-cristã’. O pós-modernismo não deixa lugar para as ‘velhas certezas’ e ensinamentos do cristianismo bíblico e tende cada vez mais a afastar-se dele. Haverá um retorno?

Não há como saber o que vai acontecer. Estas perguntas, no entanto, são geradas dentro do contexto globalizado, que levanta grandes desafios para o cristianismo. O alvo da palestra é apontar quais são os principais desafios levantados pela globalização.

1. Impacto em nosso estilo de vida
As instituições estão se desfazendo, passando por um processo de fluidificação – até pouco tempo, mesmo que com problemas, certas instituições eram sólidas e serviam como base para o desenvolvimento da sociedade e cultura. Com a globalização e o pós-modernismo estas instituições têm perdido o seu lugar sem receber substitutos. Isto representa um grande impacto para o cristianismo.

Exemplo: a fluidificação da instituição do casamento. Em alguns países o número de casamentos desfeitos entre pessoas que se dizem cristãs é igual ou maior do que entre a população não cristã.

2. A globalização traz perigo para elites e não apenas para os pobres

Imagina-se que as populações pobres e sem acesso e educação acabam sendo as únicas afetadas pelo processo de globalização, no entanto, existem grandes perigos para a população elitizada.
Quais são estes perigos?
  • Quanto à capacidade de reflexão
    Vivemos em um ritmo muito rápido, onde há muita informação e pouca sabedoria. Recebemos muito mais informação pelos meios de comunicação do que somos capazes de processar. Uma simples busca no Google gera mais hits do que poderemos ler em toda a nossa vida. Isso gera a facilidade de engano, informação falsa e incapacidade de avaliação de toda esta informação.
  • Poucos líderes no mundo moderno são capazes de pensar por si mesmos. Os líderes mundiais são guiados por uma rede de assessores, nem mesmo seus discursos públicos são escritos e pensados por eles mesmos! Livros são escritos por ‘ghost writers’.
  • A moralidade é vivida de acordo com a visibilidade. O mundo globalizado facilita o anonimato. As comunicações e a facilidade de locomoção facilitam vidas duplas.
  • “ O que fazemos quando ninguém está nos vendo?” / “O que não fazemos porque alguém está nos vendo?”
3. Os pontos cegos da globalização
  • A globalização significa/implica grandes deslocamentos
  • A Revolução Industrial modificou a face do mundo com os grandes deslocamentos humanos – a urbanização do mundo ocidental nos mostrou isto claramente – a globalização acelera estes movimentos, o homem encontra-se constantemente diante de novas realidades geradas por estes grandes deslocamentos, verdadeiras massas humanas.
  • Novo termo—“quarto mundo”—os pobres, os excluídos, os deixados para trás, produzidos pelos grandes deslocamentos.
4. As contradições da própria globalização
  • No mundo globalizado, o capitalismo foi apresentado como a grande solução, acompanhado da democracia. Várias nações enveredaram por este caminho no pós-guerra. A história tem mostrado que muitos permaneceram no capitalismo, porém, abandonaram a democracia.
  • A globalização cria o “desperdício humano” – não só criando lixo e a necessidade desesperada de planos de ação para limpar a terra, mas verdadeiro desperdício de gente.
  • Refugo humano – gente que ninguém quer – o mundo desloca os indesejáveis em suas culturas.
  • Historicamente a Europa jogou fora o seu refugo nas colonizações (ex. Austrália—prisioneiros)
  • Hoje temos 25 milhões de pessoas em campos de refugiados. Pessoas sem estado, identidade ou trabalho. Vulnerável aos terroristas, traficantes e todo tipo de corrupção.
5. A tempestade perfeita do mal criada pela globalização
Vivemos a maior crise de direitos humanos de todos os tempos. Ela se dá pelo encontro de três fatores:
  • A expansão globalizada da liberdade de locomoção cria toda a oportunidade para coisas horríveis como o turismo sexual, trafego de seres humanos, trabalho escravo, pornografia, pedofilia, etc.
  • Lucro Expansão globalizada do lucro – a facilidade de venda e transferência de valores com possibilidade de anonimato. As diversas formas de crime tornam-se ainda mais fáceis.
  • Crime globalizado – máfia, drogas
  • Disfunção – famílias, indivíduos, culturas. Expansão da disfunção globalizada A busca de pertencer (false sense of belonging!)
Tudo isto coopera para que as mais diversas formas de crime cresçam por meio do ‘cidadão comum’.
Conclusão
Como a globalização faz as pessoas pensarem sobre sua fé e vida? Podemos distinguir três campos abrangentes que propõem suas reflexões:
  • A posição dos ateus e secularistas: continuamos a despeito de...
  • A posição das religiões orientais: deu tudo errado e a resposta não esta aqui, a solução encontra-se em outro lugar
  • A posição do pensamento judaico-cristã: onde erramos e como podemos dar um passo para trás para entrar no caminho certo?
As distorções da compreensão judaico-cristã sobre pontos fundamentais como o conceito de mordomia da criação que nos dá o direito de domínio e não de dominação. A grande pergunta é “Em que(m) estamos confiando para conferir significado e esperança no mundo em que vivemos?” De acordo com a fé judaico-cristã Deus é maior do que os problemas e desafios da própria globalização!

Nenhum comentário:

Postar um comentário