Small is Beautiful?
Como
eu já disse em outras postagens, sempre achei curioso, para dizer o
mínimo, que liberais estejam aderindo ao movimento de "formação
espiritual" ou simplesmente "espiritualidade." Não estou dizendo que
todo mundo envolvido neste movimento é liberal. Conheço vários que não
são. Mas certamente é intrigante ver liberais fazendo palestras sobre
espiritualidade e defendendo suas práticas.
Também já mencionei antes algumas razões
pelas quais, na minha opinião, isto ocorre. Essa semana pensei em mais
duas delas, que permitem ao movimento de espiritualidade justificar a
existência de igrejas minúsculas, que não crescem e que são voltadas
para obras sociais. Ou seja, igrejas típicas dos liberais. Explico.
Primeiro,
o movimento de espiritualidade ataca as igrejas grandes por fomentar o
ativismo e o envolvimento dos seus membros em múltiplas atividades, sem
lhes deixar tempo para meditar, jejuar, ficar em silêncio ou praticar as
disciplinas espirituais. Além disto, estas igrejas grandes, conforme a
análise dos espiritualistas, acabam estimulando o materialismo e a busca
de posições sociais e financeiras melhores, deixando de enfocar a vida
espiritual. Partindo do entendimento de que os cristãos deveriam ser
mais contemplativos, alguns adeptos do movimento da espiritualidade
defendem uma espécie de retiro espiritual - talvez um pouco semelhante
aos monges da idade média - como o modelo ideal de cristianismo para o
mundo moderno afogado em materialismo individualista, consumismo e
indiferença. Assim, igrejas minúsculas, que não evangelizam, não
crescem, e que vão minguando a cada ano, como as igrejas dos liberais,
podem justificar esta situação de estagnação. O argumento é este:
números não expressam qualidade e melhor do que evangelizar multidões e
ganhá-las para Cristo é usar as igrejas como uma espécie de mosteiro
evangélico, paraísos de contemplação e meditação, onde os crentes que
ainda restam podem praticar os exercícios espirituais e se aperfeiçoar,
enquanto esperam a morte chegar.
Segundo,
o movimento de espiritualidade critica as grandes igrejas por não darem
a devida atenção às questões que consideram realmente essenciais. Os
espiritualistas as acusam de prosperidade, prestígio, poder e outras
coisas que seriam contrárias à teologia da cruz, do sofrimento, da
pobreza e da renúncia. Enquanto ficam pregando avivamento, crescimento,
conversão, as grandes igrejas esquecem dos pobres, abandonados,
excluídos, marginalizados que povoam as periferias e os centros das
grandes cidades. Aqui, os ícones são os padres e monges maltrapilhos,
sem vintém, que andam pelas ruas recolhendo os bêbados, os sem teto, os
drogados e as prostitutas para lhes dar pão, sabão e abrigo. Para eles, o
Evangelho reside nisto. Não Lutero ou Calvino, mas Francisco de Assis e
Madre Tereza. Dessa perspectiva, igrejas liberais minguantes, cujos
últimos membros ainda saem pelas ruas à noite dando o sopão aos
desvalidos, podem justificar o status quo.
Bem,
há vários pontos do raciocínio líbero-espiritual que me parecem
corretos. Como, por exemplo, a crítica pertinente feita à mega-igrejas
voltadas para prosperidade, poder e prestígio, sem tempo e sem interesse
em exercícios espirituais. Aprecio também a preocupação para com os
pobres e necessitados.
Todavia,
algumas outras coisas precisam de reparo, como a teimosia dos liberais
em não reconhecer que muito do esvaziamento violento sofrido nas suas
igrejas nas últimas décadas se deve ao... liberalismo! Em vez de atacar a
causa real da sangria que vem acontecendo nas denominações onde eles
dominaram os seminários, as instituições e assumiram a sua direção,
alguns liberais preferiram adotar uma concepção de cristianismo que
justifique o declínio cada vez maior de jovens e o envelhecimento de
suas igrejas locais, que é se isolar do mundo para jejuar e meditar, e
depois sair para distribuir sopa.
Eu
estaria realmente totalmente errado se fosse contra os exercícios
espirituais como oração, meditação e jejum, ou ainda contra socorrer os
pobres em suas necessidades. Eu sou contra, todavia, em se usar estas
coisas como uma cortina de fumaça que oculta as verdadeiras causas da
diminuição anual no rol de membros de igrejas liberais. Sou contra a
idéia de que igrejas grandes não podem ser espirituais, comprometidas
com questões sociais ou oferecer condições para a comunhão de seus
membros. Sou contra o conceito de que small sempre é beatiful. Sou
contra a idéia de que se uma igreja decadente virar uma ONG, ou um
mosteiro, ela legitimiza sua situação de declínio.
Não
estou defendendo o movimento de crescimento de igrejas e nem o
movimento de igrejas emergentes. Muitas destas igrejas se tornaram
grandes por oferecer um Evangelho distorcido, que apela para as
necessidades menores e secundárias das pessoas e que deixa de tratar das
maiores. Para mim, igrejas pequenas podem e têm sido uma bênção. Nem
sempre igrejas são pequenas porque estão morrendo. Mas quando igrejas
dominadas por liberais continuam a minguar ano após ano, enquanto
aquelas que pregam o Evangelho bíblico crescem, temos de procurar a
causa da estagnação na teologia destas igrejas.
Em
resumo, pode haver casos em que liberais se tornam seguidores da
espiritualidade dos monges da Idade Média porque mosteiros sempre foram
um escape para os que nunca quiseram ir ao mundo e ganhá-lo para Cristo.
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