Novos modelos de pregação
Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para os Pastores Batistas do Amapá, novembro de 2009
INTRODUÇÃO
As raízes históricas do púlpito bíblico estão em Esdras, em Neemias
8.4-12, cuja leitura faço agora: “Esdras, o escriba, ficava em pé sobre
um estrado de madeira, que fizeram para esse fim e estavam em pé junto a
ele, à sua direita, Matitias, Sema, Ananías, Urias, Hilquias e
Maaséias; e à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana,
Zacarias e Mesulão. E Esdras abriu o livro à vista de todo o povo (pois
estava acima de todo o povo); e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em
pé. Então Esdras bendisse ao Senhor, o grande Deus; e todo povo,
levantando as mãos, respondeu: Amém! amém! E, inclinando-se, adoraram ao
Senhor, com os rostos em terra. Também Jesuá, Bani, Serebias, Jamim,
Acube; Sabetai, Hodias, Maaséias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã,
Pelaías e os levitas explicavam ao povo a lei; e o povo estava em pé no
seu lugar. Assim leram no livro, na lei de Deus, distintamente; e deram o
sentido, de modo que se entendesse a leitura. E Neemias, que era o
governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam o
povo, disseram a todo o povo: Este dia é consagrado ao Senhor vosso
Deus; não pranteeis nem choreis. Pois todo o povo chorava, ouvindo as
palavras da lei. Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as
doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque
este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais,
pois a alegria do Senhor é a vossa força. Os levitas, pois, fizeram
calar todo o povo, dizendo: Calai-vos, porque este dia é santo; por isso
não vos entristeçais. Então todo o povo se foi para comer e beber, e
para enviar porções, e para fazer grande regozijo, porque tinha
entendido as palavras que lhe foram referidas”.
Esta
é a forma que púlpito deve ter: um homem ler a Palavra de Deus,
esclarecer o que leu, o povo entender, ser impactado, e depois se
alegrar pelos efeitos da Palavra. E como vemos no versículo 13, a
pregação verdadeira ainda produz efeitos depois: “Ora, no dia seguinte
ajuntaram-se os cabeças das casas paternas de todo o povo, os sacerdotes
e os levitas, na presença de Esdras, o escriba, para examinarem as
palavras da lei”. O povo quis mais da Palavra. O povo de Deus que é
sério se extasia diante da Palavra, e quando a ouve quer mais.
Mas, infelizmente, aconteceu uma tragédia com a igreja contemporânea.
Ela trocou o púlpito pela festa. O louvor atual, que muitas vezes mais
parece com forró e desprogramação da personalidade através da música
barulhenta, para efeitos de manipulação, tomou o lugar da proclamação
bíblica. Temos muito culto, muito louvor e pouca santidade e afastamento
do pecado. As pessoas não são impactadas pela Palavra de Deus. Éramos o
povo da Bíblia e hoje somos o povo da caixa de som.
E há mais. Não quero ser polêmico, mas minha alma de profeta não me
permite calar. Muitos pastores darão contas a Deus porque substituíram a
Palavra de Deus pela sua palavra pessoal, no púlpito. O pregador é
servo da Palavra, e quando usa o púlpito isto deve ser visto em sua
vida. Muitos usam o púlpito para projetos pessoais, desvestindo-o de sua
grandeza e de sua santidade e transformando-o em tribuna de ganho
pessoal.
E
há pregadores preguiçosos que ocultam sua pouca disposição de aprender
com uma arrogância espiritual de quem tem uma linha vermelha com Deus e
sabe de tudo. Parece que quando receberam a imposição de mãos, receberam
um PhD em capacidade. Eugene Petersen faz esta observação, bem válida,
em uma de suas obras: “Agostinho escreveu quinze comentários sobre o
livro de Gênesis. Ele começou com as origens, porém jamais se contentou
com o que realizara. Ele nunca acreditou que havia explorado
profundamente o primeiro livro da Bíblia… Beethoven compôs dezesseis
quartetos de cordas porque nunca estava satisfeito com o que havia
composto antes” 1.
Isto deve acontecer com o pregador. Nunca deve estar satisfeito com sua
produção, mas procurar melhorar. Melhorar sua vida espiritual, seu
conhecimento bíblico, sua dicção, seu português, seu sermão. Não deve
pregar o mesmo sermão duas vezes. Mesmo que seja o mesmo sermão, este
deve ser reestudado e aperfeiçoado.
Neste
sentido, fico feliz por abordar este tema. E vim falar de coração, não
de cátedra. Eu melhorei, porque tive que estudar, tive que pensar e
refazer o que tinha feito antes. A gente cresce quando age assim.
Fiz
esta introdução mais devocional, e entro em parte mais estrutural. Para
tratar de novos modelos de pregação contemporânea, começarei pela área
da interpretação. Pela exigüidade do tempo e pelo ambiente não posso
apresentar um trabalho em nível de mestrado (não sei se conseguiria com
mais tempo e em outro ambiente). É um desafio falar para pastores sobre
pregação, mas desafios sempre são fascinantes. Espero ser útil. Foi
nesta mentalidade que vi. Para ser útil. Vim como servo.
Começo pela parte da interpretação, que denominei de “A interpretação
do texto”. Começo aqui porque a exegese está em baixa em nosso meio e as
coisas mais disparatadas são ditas, em nome de Deus. Uma coisa é o livre exame das Escrituras. Outra coisa é a livre interpretação das Escrituras. Elas
não podem ser interpretadas a bel prazer, enxertando-se nelas o
queremos, ou torcendo-as para apoiarem nossa posição. Há regras de
interpretação da Bíblia, postas pelo bom senso, que devem ser
consideradas.
O QUE É INTERPRETAÇÃO?
Uma falsa hermenêutica, que não é hermenêutica, mas o
desconstrucionismo literário de Derrida, diz que não se pode interpretar
um texto, principalmente o bíblico, porque ninguém pode saber qual é a
intenção do autor ao produzi-lo. Este é o discurso dos pseudos
intelectuais. Lembro, a respeito, um argumento de Calvino chamado de sensus divinitatis (“senso da divindade”), presente na humanidade. Um dos motivos deste sensus é
o fato de que temos um universo organizado, e não um caos. E o homem
pode refletir sobre este ordenamento, o que mostra a possibilidade de se
conhecer a Deus 2. Um Deus da ordem é necessariamente um Deus comunicável, porque ordem é uma comunicação e demanda comunicação 3.
Cremos que Deus se comunicou e se comunicou de forma inteligível, como
convém a um Deus da ordem. Se há uma mensagem cognoscível na ordenação
cósmica, à luz de Romanos 1.18-30, não a haverá na Bíblia, revelação
proposicional, verbalizada, de um Deus comunicante?
Há um princípio hermenêutico inegociável: o autor último do texto
bíblico é o Espírito Santo (2Pe 1.21). Outro princípio inegociável: o
pregador é uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo, que habita nele, e
que pode levá-lo a entender as coisas do Espírito: “Ora, nós não temos
recebido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a
fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por
Deus; as quais também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando
coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as
coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.12-14).
Cremos que uma pessoa regenerada, iluminada pelo Espírito, entende o que
o Espírito revelou. E uma das tarefas mais esperadas de um pastor é que
ele interprete a Palavra de Deus para o seu rebanho. A mais forte razão
pela qual a igreja de hoje está confusa e fraca é por falta de ensino
correto das Escrituras. Precisamos interpretar bem a Bíblia e depois
ensiná-la bem ao nosso povo.
Dito isto, definamos interpretação: “Interpretação é o esforço de uma
mente em seguir os processos mentais de outra mente por meio de símbolos
que chamamos linguagem” (Dana). Lembrando do texto de 1Coríntios
2.12-14, consideremos o versículo 15a: “Mas o que é espiritual discerne
bem tudo”. Assim afirmo que o principal critério para a boa
interpretação é vida espiritual, bem orientada pelo Espírito Santo de
Deus. A espiritualidade sadia é a primeira e maior ferramenta na
interpretação do texto bíblico. A interpretação bíblica correta só pode
ser feita onde Deus é o Tu. O primeiro intérprete a chamar Deus de Ele
foi a serpente (Gn 3.1). E isto trouxe muitos problemas para a
humanidade. Quem não pode chamar a Deus de Tu e viver com o Tu, não pode
falar de Deus como Ele. Deve calar a boca. Mas cuidemos da
interpretação do texto.
Eis alguns passos a seguir para uma boa interpretação do texto:
1. É preciso conhecer o texto e seu substrato histórico
1.1
– O autor e seu momento histórico e cultural. O contexto dos salmos 32,
46 e 51, por exemplo. Partimos de um pressuposto: o texto tem um background, um pano de fundo. O
texto não foi escrito em tabula rasa, mas num contexto histórico e
cultural. Por isso o método histórico e cultural tem valor, tanto quanto
o gramatical.
1.2
– Os destinatários e seu ambiente. Cada igreja do Apocalipse tinha seu
ambiente geográfico, cultural e espiritual próprio que se refletiu no
conteúdo da mensagem. Há um pano de fundo em Hebreus, mostrado no
tipo de leitores e no ambiente que eles viviam, que serve de ferramenta
hermenêutica. Partimos de um pressuposto: não somos os destinatários
primeiros dos livros, mas os segundos.
1.3
– A ocasião e o propósito do autor. Tiago e Paulo sobre Abraão, por
exemplo. Um defende a salvação pela fé (Paulo, em Efésios 2.8-9) e
outro, a salvação pelas obras (Tiago, em Tiago 2.21 e 25)?
1.4
– As condições geográficas, políticas, culturais, econômicas e sociais.
Maria era noiva de José e é chamada de esposa, por exemplo. O que
significa amontoar brasas de fogo sobre a cabeça do inimigo, em Romanos
12.20?
2. É preciso conhecer o texto e seu contexto
2.1 – Conheça o contexto próximo: o imediato, antes e depois. A boa exegese manda que se analise um pensamento completo.
2.2
– Conheça o contexto remoto: o livro e a Bíblia, sobre o assunto. Se o
Espírito é o autor das Escrituras, ele não se contradisse. O que o todo
bíblico diz sobre a parte?
2.3
– Lembre-se do princípio da revelação progressiva, bem expresso em
Mateus 17.5 e em Hebreus 1.1-2. Lembre-se do conceito de Lutero: “Cristo
é o cânon dentro do cânon”. Ele é o fio de prumo hermenêutico. O
suporte deste conceito de Lutero é o conceito de revelação progressiva.
Que não é sair do erro para a verdade, mas do incompleto para o completo
e do obscuro para o claro.
3. É preciso conhecer o texto e saber analisá-lo
3.1
– Conheça o sentido das palavras. É poesia? Linguagem figurada? Artigo
de livro pré-milenista sobre a reconstrução de Babilônia e Isaías
13.19-22. Use dicionários e léxicos. A obra de Fee & Stuart, Entendes o que lês?, da Vida Nova, é excelente para dar este embasamento. Outro muito útil é Evangelho – figuras & símbolos, de Mateos e Camacho, da Paulinas.
3.2
– Conheça a relação entre as palavras. Graça e fé, por exemplo.
Constantemente ouvimos os crentes e até pastores dizerem que somos
salvos pela fé. Não somos salvos pela fé. Somos salvos pela graça, por
meio da fé (Ef 2.8-9). Há sentido nesta ordem e nas preposições.
3.3
– Recrie, tanto quanto possível, a vivência daquela passagem. Conheça
aquela cultura. Interpretar não é trazer o texto para o nosso tempo. É
ir ao tempo do texto. E trazer os princípios do texto para o nosso
tempo.
4. O texto e seu estudo
4.1 – Examine várias traduções portuguesas: VR, NTLH, RAB, BJ, BV, BL, BP, NVI, KJ, NTJ, etc.
4.2 – Examine outras traduções: KJ, NIV, Reina-Vallera.
4.3 – Examine o texto em grego ou hebraico.
4.4 – Dê sua própria interpretação. Não invente, mas diga o que entendeu.
CLASSIFICAÇÃO DOS SERMÕES QUANTO À ESTRUTURA
Um sermão pertence a uma destas três categorias: tópico (ou temático), textual ou expositivo. Definamos cada um sinteticamente.
Sermão tópico ou temático -
Trata de um tópico e não de um texto bíblico em particular. As divisões
derivam do tópico (ou tema). É aquele em que o tema deriva do texto,
mas as divisões, não. São aleatórias. Como tratamos aqui de exegese,
deixá-lo-ei de lado porque ele não lida com exegese. Fiquemos com os
sermões textual e expositivo.
Sermão textual – Trata do desenvolvimento de um texto bíblico, um ou dois versículos. As divisões derivam do texto. É aquele em que as divisões correspondem às palavras do texto. Sermão e texto caminham juntos. Pode ser literal, se as divisões são as palavras do texto, e livres, quando as palavras do texto fornecem as idéias das divisões.
Exemplo 1 – “O maior amor do mundo” (João 3.16) – IGCF
1. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua extensão (“o mundo”)
2. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto à sua prodigalidade (“deu”)
3. O amor de Deus é o maior amor do mundo quanto aos seus efeitos (“não pereça… tenha a vida eterna”).
Exemplo 2 – “A salvação do carcereiro” (Atos 16.31) – Crabtree
1. O Salvador é o Senhor Jesus (“crê no Senhor Jesus”)
2. É uma salvação garantida (“serás salvo”)
3. É pela graça mediante a fé (“crê”)
Respeitando
a fantástica cultura de Crabtree em AT e Hebraico: este esboço tem um
problema. O título é inexpressivo. Seria correto se fosse pregado para
carcereiros, mas nada diz ao ouvinte contemporâneo. Lembre-se: o título do sermão deve ser relevante e contemporâneo.
3. Sermão expositivo -
É aquele que faz a exposição completa de um texto bíblico. Sua
estrutura parece com a do textual. A diferença entre os dois é que o
textual usa apenas um versículo. O expositivo lida com um texto maior.
Exemplo 1 – “O remédio para um mal incurável” (2 Reis 5.1-14) – Hawkins
1. O remédio necessário (v. 1)
2. O remédio conhecido (vv. 2-4)
3. O remédio procurado (vv. 5-10)
4. O remédio recusado (vv. 11-12)
5. O remédio aceito (vv. 13-14).
Aqui,
o trabalho foi facilitado porque a ordem dos argumentos está clara no
texto. Muitas vezes, principalmente nas cartas paulinas, é necessário
trabalhar com uma ordem diferente daquela em que os argumentos aparecem
no texto bíblico. Nem sempre nossa argumentação pode seguir a mesma
ordem da argumentação do autor bíblico. Os orientais têm o estilo
decrescente de escrever, do maior para o menor. Nossa argumentação é
crescente, do menor para o maior. Mas mudar a ordem não significa ser
infiel ao texto. Os conceitos têm que estar respaldados no texto.
Exemplo 2 – “O fantasma de Acã” (Atos 5.1-11) Macaulay, citado em Predicación Expositiva, de White, p. 140
1. O pecado que ameaçou a igreja
2. A severidade que salvou a igreja
3. A santidade que glorificou a igreja
Normalmente,
nos títulos e divisões, os nomes de pessoas e lugares devem ser
deixados de lado. Porque isto remete o sermão ao passado e o confina lá.
Mas preste atenção: o texto não faz nenhuma referência a Acã. O
pregador deduziu que a igreja conhece a história de Acã (tantas vezes
contada em nosso meio) e deve tê-la utilizado na introdução.
Relacionou-o com a igreja e seguiu por uma brilhante linha de
raciocínio.
4. As vantagens do sermão expositivo
1ª)
Parece-me o mais necessário atualmente, pois vivemos numa época de
tantas esquisitices nas igrejas e de absoluta ignorância bíblica. Há
muito ensino fragmentário, sem base bíblica: amarrar Satanás, abençoar
água por oração, sal grosso para descarrego, abençoar fotografias, etc.
Estas práticas são tiradas de passagens bíblicas isoladas e de eventos
acidentais, não sendo uma prática respaldada pelo ensino bíblico geral. O
sermão expositivo faz teologia bíblica.
2ª)
Dá cultura teológica e bíblica ao pregador. Por dar conhecimento
bíblico ao pregador, acaba dando-lhe cultura teológica. O pastor deve
ser uma autoridade em Bíblia e não em exotismos doutrinários. E nem
mesmo em pensamento secular mais quem em conhecimento bíblico. Há muito
ensino humano no púlpito. Estive com uma igreja em que os crentes
reclamaram que por um bom tempo não ouviram pregação da Palavra, mas
apenas comentários sobre os livros de Alberto Cury. Sobre isto,
recomendo o livro Pense biblicamente, de John Macarthur Jr 4. Considero-o indispensável a um intérprete cristão das Escrituras.
3ª)
Está de acordo com a dignidade da pregação: ensinar a Bíblia. É bem
diferente entrar numa igreja onde a Bíblia é exposta com seriedade e em
outra onde a festa é elemento principal do culto.
A ESTRUTURA DO SERMÃO TEXTUAL
Já vimos o que é um sermão textual. Vimos exemplos de esboços e captamos sua estrutura. Como é elaborado? Como se faz?
1. A relação com o texto
O
texto, acima de tudo, tem que ser expressivo. O sermão vai depender da
força do texto. O texto deve ter um pensamento completo, claro e forte.
Lembre-se que no sermão é o texto. E, de acordo com o texto, o sermão
textual pode ser literal e livre. Vejamos cada um deles.
2. Sermão textual literal
Nele, as divisões são, literalmente, as expressões contidas no texto. É daqui que vem sua classificação.
Exemplo – “Cristo morreu por nós” (Romanos 5.8) – Hawkins
1. Cristo
2. Morreu
3. Por
4. Nós
Mas
atenção: não é um mero esquartejar do texto, pondo palavras aqui e
acolá. Na primeira divisão enfatizou-se a pessoa de Cristo como
Salvador. Na segunda, o valor de sua morte. Na terceira, o fato de que
ela é vicária, e na quarta, que é pessoal. Mas me parece que o sermão
contém um erro de estrutura: as divisões 3 e 4 dizem a mesma coisa. O
pregador terá que ser muito cuidadoso para não repetir argumentos. Este é
um cuidado a tomar na confecção do sermão: as divisões não podem ser
repetitivas. O sermão não pode ser cíclico, com argumentos se repetindo.
Deve ser linear e crescente: uma linha para o alto.
3. Sermão textual livre
Nele, as divisões são formuladas livremente, sem repetir as expressões contidas no texto, mas apreendendo as idéias.
Exemplo - “Um texto cheio de luz” (João 12.36) – Crane
1. Uma oferta gloriosa (“para que vos torneis filhos da luz”)
2. Uma condição simples (“crede na luz”)
3. Uma oportunidade fugaz (“enquanto tendes a luz”)
Neste
texto, a ordem das divisões não é a mesma em que as expressões aparecem
no texto bíblico. De acordo com sua argumentação, o autor inverteu a
ordem de aparecimento das expressões. Mas o sermão é rigorosamente
bíblico.
4. Algumas observações necessárias
1ª) O textual literal pode ser tornado em textual livre, e vice-versa.
2ª)
Repito: a ordem do texto não é, necessariamente, a ordem das divisões. O
exemplo de Crane mostra isso muito bem. A lógica da argumentação deve
prevalecer. Lembre-se: nossa cultura e nosso estilo de raciocínio são
diferentes do estilo e da cultura oriental.
3ª)
Importante: é necessário preservar os pensamentos, quando não as
próprias palavras do texto, nas divisões do sermão. É o texto que
comanda o desenvolvimento. É o texto que está sendo analisado.
4ª)
É necessário captar os sentidos das partes do texto, vendo as idéias
principais. Dividindo o texto em idéias principais, as divisões irão
surgir. As partes não devem conflitar com o todo, ou seja, as divisões
devem estar em harmonia com o título. O textual literal nem sempre
permite o melhor esboço. Usemos Hebreus 2.3: “Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?”. Um esboço literal nos dará:
“escapar”, “nós”, “se”, “negligenciarmos”, “salvação tão grande”. Um
esboço “impregável”. Não faz muito sentido.
5ª) Usando o modelo textual livre é possível apresentar um bom sermão neste texto. Veja este esboço:
1. Uma grande salvação
2. Um grande perigo
3. Um destino inevitável
Note
que este esboço segue para uma linha negativa, enfatizando a ruína.
Deve ser usado com perícia e com misericórdia. Se há algo que se pode
aprender da Publicidade é que nunca se explora um assunto pelo lado
negativo. O Min. da Saúde mostra imagens horrorosas dos efeitos do fumo,
nos maços de cigarro. A Publicidade mostra imagens de prazer. Qual dá
mais certo?
6ª)
Ponha as idéias em ordem. No item anterior, as idéias foram postas em
ordem. Isto requer trabalho, humildade e objetividade. Quanto ao
trabalho, lembre-se de Thomas Edson: “O gênio é mais trabalho que
inteligência”. Volto à obra de Petersen, em que ele cita Beethoven.
Assim se expressa sobre o grande compositor: “A perfeição era sua meta” 5.
Quanto à humildade, não pense de si e de seu trabalho como algo
completo. Você sempre pode melhorar e seu trabalho sempre pode ser
aperfeiçoado. Quanto à objetividade: pergunte-se: “É isto mesmo?”. Veja e
reveja. Analise. Não se contente com o realizado.
7ª) Faça algumas perguntas, com o esboço pronto:
Pergunta
1 – É isto, exatamente, o que o texto diz ou é o que eu quero que o
texto diga? Estou me sobrepondo ao texto ou o texto está se sobrepondo a
mim?
Pergunta 2 – As idéias estão na melhor ordem para o povo compreender?
Pergunta 3 – Estou deixando brechas na minha apresentação? Há falhas?
Pergunta 4 – Há idéias desnecessárias, que fogem ao propósito do sermão, mesmo que boas?
SERMÃO EXPOSITIVO: O QUE NÃO É, O QUE É
1. Definições
1ª)
Sermão expositivo é aquele em que o pregador expõe certo trecho das
Sagradas Escrituras, analisando-o em seus detalhes mais importantes,
aplicando-o à vida dos ouvintes.
2ª) Sermão expositivo é aquele que faz a exposição do conteúdo de um texto bíblico de extensão superior a um versículo.
2. O que o sermão expositivo não é
1º) Não é um ligeiro comentário exegético sobre o conteúdo de um versículo ou capítulo.
2º) Não é tirar idéias de comentários bíblicos e citá-los eruditamente do púlpito.
3º) Não é uma exegese de uma coleção de versículos relacionados com um assunto.
4º) Não é fazer sugestões devocionais numa “corrida” versículo por versículo de um texto.
5º) Não é um comentário errante ou um tagarelar de improviso sobre um trecho bíblico, sem tema e sem objetivo.
6º)
Não é dizer “este texto tem falado ao meu coração” e ficar embromando
por meia hora, sem falar nada além do que o texto diz, com outras
palavras, ou simplesmente nada dizer.
3. O que o sermão expositivo é
É, principalmente, uma explanação ou exposição da Bíblia. A etimologia vai nos ajudar. Explanação vem de ex planare, fazer plano, deixar claro. Exposição vem de ex poser, por
para fora. Significar fazer um plano, deixar claro, por para fora o que
a Bíblia está dizendo. O sermão expositivo exige exegese e exposição. A
exegese é “tirar idéias para fora” do texto. Ela extrai o sentido
histórico, gramático e real do texto. Na exegese tiram-se idéias do
texto. É o oposto de eisegese,
que é o que muitos pregadores fazem, isto é, colocar suas idéias no
texto. Na exposição, o pregador dá ao povo as idéias do texto. A
exposição bíblica dá ao povo a exegese do texto.
4. Elementos básicos do sermão expositivo
1º) O sermão expositivo procura explanar um texto bíblico.
2º)
O sermão expositivo procura captar o sentido original da passagem. A
pergunta mais importante é esta: “O que isto queria dizer, naquela
época, para aqueles ouvintes?”. Não é o que quer dizer para nós. Não
somos os destinatários primeiros do texto, mas os secundários.
3º)
O sermão expositivo procura relacionar o sentido original do texto ao
contexto em que ele se acha inserido. As perguntas aqui são: “Por que
isto está sendo dito? Quais as circunstâncias em que isto foi dito?”
4º)
O sermão expositivo procura descobrir as verdades universais e a
verdade contemporânea dentro do seu contexto bíblico. É uma busca para
se saber o que é um princípio de valor eterno e o que é princípio de
valor relativo. A pergunta é: “Qual o princípio que está sendo ensinado
aqui? Ele tem validade hoje?”. Aqui entram o princípio da revelação
progressiva e o conceito de Lutero de Cristo como o cânon dentro do
cânon.
5º)
O sermão expositivo procura organizar estas verdades ao redor de um
tema central inerente ao texto e relevante ao auditório. Esta é a maior
dificuldade do pregador. A pergunta é: “Como colocar estas idéias numa
ordem que meu auditório entenda e guarde?”. Lembre-se: nós não apenas
pregamos a Bíblia. Nós pregamos a Bíblia para o povo. Não basta boa
exegese. É necessário fazer boa aplicação. É ela que garante o bom
sucesso do pregador.
APÊNDICE
SERMÃO EXPOSITIVO: COMO PREPARÁ-LO
(Palestra apresentada em curso de aprofundamento pastoral e adaptada para esta apostila)
É difícil pensar. É mais difícil pensar em pensar. Mas é mais difícil
ainda falar sobre pensar em pensar. Esta é a tarefa básica de qualquer
pessoa que tenta ensinar preparação de sermões. Apesar da dificuldade,
entretanto, vou tentar.
Alguns bons expositores da Bíblia dizem não ter método, mas seus
sermões saem bem feitos, assim mesmo. Na primeira vez que lecionei
Pregação Expositiva, em 1985, tive um problema: sabia como fazer, mas
não sabia mostrar como fazia. Assim sendo, a disciplina foi uma espécie
de oficina prática: fazia com os alunos e aprendíamos juntos. Devo dizer
que não me considero um bom expositor da Bíblia, então não é sobre mim,
mas sobre estes homens que duas coisas devem ser ditas:
1ª) Muitos expositores que dizem não seguir nenhuma regra, normalmente
não têm examinado como eles fazem para preparar seu sermão. Mesmo que
esteja sendo feito inconscientemente de ser um método, essa ausência de
método é o seu método. Ou seja, têm um método, mas não o explicitaram.
Na verdade, poucos pregadores expositivos, dos bons, são sem método.
2ª) Qualquer pessoa que deseja aprender como fazer uma coisa bem feita
deve estudar os métodos das pessoas que fazem com consistência, e não os
métodos dos que fazem por acaso.
Tornar-se um expositor maduro da Bíblia é tarefa que demanda viver a
vida toda com a Bíblia e com o povo. Como jovem pastor eu ficava
observando, admirado, pregadores mais experientes, com 40 e 50 anos,
pela sua habilidade em pregar expondo a Bíblia de maneira que eu não
sabia fazer, por mais que me esforçasse. Eu ficava curioso para saber
porque não pregava como uma pessoa assim. Depois de algum tempo é que
descobri que somente uma pessoa que estudou a Bíblia com seriedade, por
anos, e que conviveu com o povo por anos, podia pregar assim, de forma
tão madura e consciente. Mas cada pregador que deseja crescer como
expositor da Palavra precisa de ajuda específica para começar, não
importando qual seja a sua idade. Saber como alguém mais experiente faz
pode ajudar um pouco.
Quando tratamos dos estágios da preparação do sermão, os argumentos
algumas vezes se misturam, ficando fora da ordem que nosso povo pode
entender bem. Por exemplo: todo livro de Homilética vai dizer que o
melhor momento para preparar a introdução é quando o esboço já está
pronto, ou pelo menos, sua idéia geral está bem clara para nós. Mas na
quase totalidade das vezes, eu tenho logo a idéia para a introdução e
desenvolvo toda a argumentação a partir dela. Ou seja, geralmente, minha
introdução é que desencadeia todo o sermão, o oposto do que os
homiletas ensinam. Há linhas gerais para a confecção de sermão, mas cada
pregador tem um esquema mental e deve desenvolver seu modo de trabalho.
Ditas estas coisas, vejamos os estágios necessários para a preparação de um sermão expositivo.
ESTÁGIO UM: ESCOLHER A PASSAGEM A SER PREGADA
Uma antiga receita para coelho ao molho começa assim: “Primeiro você
pega um coelho”. Coloque as primeiras coisas em primeiro lugar. Sem um
coelho, a receita se torna sem uso. De que serve o molho para coelho sem
o coelho? O primeiro problema que o pregador expositivo enfrenta é
este: “De qual passagem da Escritura devo tirar meu sermão?”.
Algumas vezes, as ocasiões especiais ou necessidades especiais me
ajudam a selecionar o meu texto. Nos dias de natal ou semana santa, o
óbvio é escolher uma passagem que se relacione com o tema da época. Ou é
possível começar com um assunto ou problema como a doutrina da
trindade, ou inspiração das Escrituras, ou preocupações pessoais como a
culpa, solidão, ou divórcio e então procurar uma passagem que se
relacione com o tópico. Um tempo atrás, a igreja que eu pastoreava
escolheu novos diáconos. Fui à Bíblia para procurar alguns textos dos
quais eu poderia realizar estudos ou preparar sermões sobre a escolha e a
função dos diáconos. Penso que isso poderia ser chamado de “exposição
em tópicos”. É bem diferente do assim chamado sermão em tópicos, nos
quais a passagem bíblica é pretexto para o que vou dizer. Neste caso, a
passagem molda tudo o que eu digo. Escolho um tópico, mas posso fazer um
sermão expositivo sobre a passagem.
Durante algum tempo, trabalhei escolhendo um livro da Bíblia e pregando
nele, em ordem, capítulo por capítulo, versículo por versículo. Isto me
livrava da angústia de estar procurando o que pregar no domingo
seguinte. Tendo pregado um sermão numa passagem, simplesmente passava
para a seguinte. Sabia de onde viria minha mensagem no domingo seguinte.
Há uma mensagem de Deus em cada passagem bíblica e fazendo assim,
pregando livro após livro, versículo após versículo, estou declarando
“todo o conselho de Deus”, em vez de pregar somente nas minhas passagens
e tópicos prediletos. Para a igreja é muito bom, também, porque ela
passa a ter uma visão global de um livro da Bíblia. Ultimamente, minhas
mensagens têm brotado de minhas leituras bíblicas diárias. Em janeiro e
fevereiro li todo o Novo Testamento Judaico. Com isso, muitos sermões no
Novo Testamento me vieram à mente. Tem me acontecido que muitas vezes,
lendo o texto, a idéia para o sermão me salta aos olhos, e interrompo a
leitura para confeccioná-lo.
Nas cartas do Novo Testamento, geralmente uso as divisões em versículos
ou em idéias. Quando a seção é narrativa, o melhor é trabalhar com
unidade de história completa. Por exemplo, se alguém pregar o adultério
de Davi com Bate-Seba, a história seria fragmentada se este alguém
pregasse um versículo de cada vez. O melhor é tomar todo o capítulo 11
de 2Samuel . Ou, tendo habilidade, a repreensão feita por Natã (cap. 12)
e voltar ao capítulo 11 em estilo de flashback,
de revisão. Se pregar sobre literatura poética, como Salmos, por
exemplo, ou o salmo inteiro ou versículos que contenham uma unidade de
pensamento completa ou um resumo do salmo. No
entanto, é necessário basear o meu sermão em alguma unidade do
pensamento bíblico. O mais importante é permitir que a passagem bíblica
molde o que vai ser dito no sermão.
ESTÁGIO DOIS: ESTUDAR A PASSAGEM E REUNIR AS NOTAS
Enquanto estudo, conservo o texto na mente, tanto o texto em si como
seu contexto imediato. Por exemplo: 1Coríntios 13 é parte de uma unidade
que trata dos dons espirituais (12 a 14). Estes capítulos devem ser
considerados em contexto, como um todo, para que interprete de maneira
apropriada o contraste do amor com a arrogância e mau uso dos dons
espirituais. Será um desastre pregar sobre uma passagem isolada de
Eclesiastes, sem a noção do ensino global do livro. O mesmo pode ser
dito de Jó, quando o próprio Deus diz que o que foi dito pelos amigos de
Jó não estava certo (Jó 42.7). Como pregar em uma coisa que o próprio
Deus diz que está errado?
A importância de se conhecer o contexto imediato pode ser vista em
Gálatas 5.4: “da graça tendes caído”. Usado isoladamente, o texto poderá
apoiar aqueles que dizem que o homem pode perder sua salvação. Mas no
contexto de Gálatas se diz algo muito diferente. Paulo argumenta que
aqueles que tentam se salvar pela guarda da lei estão cortados do
sistema da graça. No contexto, “graça” não é a experiência pessoal da
salvação divina, mas todo o sistema do evangelho da salvação em Cristo.
Estudando o contexto, o pregador evitará erros similares.
Enquanto estudo, eu examino os detalhes da passagem em vista,
procurando pistas importantes. Neste caso, o conhecimento das línguas
bíblicas se torna inestimável. A mensagem da Escritura pode ser
compreendida perfeitamente de qualquer tradução, mas hebraico e grego
acrescentam muito à compreensão. Se você não tem o domínio das línguas
bíblicas, há bons comentários que fazem boas exegeses. Fuja dos
comentários açucarados que nada acrescentam.
A televisão em preto e branco e a em cores captam a mesma imagem, mas a
cor acrescenta interesse e precisão que não possíveis na tevê em preto e
branco. É isto que nos proporciona o conhecimento e o uso das línguas
bíblicas. Ninguém precisa ser mestre nestas línguas para usá-las com
benefício, e quase todos os pregadores, valendo-se de bons livros, podem
obter este benefício. O homem de Deus que seja sério e que leve a sério
sua responsabilidade como pregador procurará ter toda a precisão
possível na interpretação da Palavra de Deus. Nunca buscará dizer
qualquer coisa nem declarar em nome de Deus o que ele nunca disse.
Depois disso, continuo estudando até estar bem consciente de que posso
declarar o que o autor quis dizer. Este passo é fundamental: “É isto,
exatamente, o que o autor queria dizer”.
ESTÁGIO TRÊS: DECLARAR AS IDÉIAS EXEGÉTICAS EM FORMA HOMILÉTICA
A exegese nunca é um fim em si mesma. A pregação expositiva consiste em
cavar idéias na Bíblia e relacioná-las com o cotidiano das pessoas.
Para se pregar eficientemente não basta estudar a Bíblia. É necessário
estudar também os ouvintes. Tenho que trazer juntos o mundo antigo e o
meu próprio mundo, o que Deus disse no passado e o que quer dizer agora.
Tomemos 1Tessalonicens 1.2-6, por exemplo. Nesta passagem Paulo
agradece a Deus pelos cristãos tessalonicenses por causa dos resultados
que emanavam da sua fé, esperança e amor e também pela evidência de que
eles haviam sido escolhidos por Deus. Não posso pregar um sermão dando
graças a Deus pelos tessalonicenses. O que isto tem
a ver com o meu auditório? A idéia tem que ser mais direta e pessoal:
vou agradecer a Deus por outros cristãos, por aquilo que eles fazem pela
obra de Deus e por causa daquilo que Deus fez por eles.
O maior obstáculo a superar é na ocasião de transferir do texto todos
os nomes próprios, lugares, incidentes e descrições. O sermão não deve
falar do passado, mas do presente. O pregador tem que ajudar a
congregação moderna a ouvir Deus falando hoje de um texto tido como
antigo. É necessário eliminar todos os nomes próprios (exceto o de Deus
ou Jesus ou Espírito Santo) dos pontos principais da mensagem. Devemos
deixar de lado qualquer detalhe que atraia a atenção mais para o então
do texto do que para o agora do desafio de Deus na mensagem. Vamos
exemplificar. Uma pessoa preparou uma mensagem na parábola do filho
pródigo desta maneira:
Título: “Sua Procura“
1. Ele procurou por liberdade
2. Ele procurou por aceitação
3. Ele procurou por propósito
Seria uma excelente mensagem se fosse pregada ao filho pródigo, mas que
é inadequada para um auditório moderno. Seria muito melhor tornar a
mensagem mais genérica e, ao mesmo tempo, mais pessoal, como se segue:
Título: “Um Jovem Buscando Satisfação”
1. Um jovem buscando por liberdade
2. Um jovem buscando por aceitação
3. Um jovem buscando por propósito
Assim fazendo, estou falando aos jovens de hoje e não ao pródigo de
ontem. Lembre-se: o sermão trata de realidades presentes e não de coisas
do passado. Não falamos para falecidos, mas para contemporâneos.
ESTÁGIO QUATRO: DETERMINAR O TEMA DA MENSAGEM
É necessário decidir sobre o que, exatamente, a mensagem vai tratar.
Qual é o tema? Alguns pregadores fazem uma porção de considerações sobre
o texto e acabam não dizendo nada. O que queremos dizer?
Muitas vezes o tema está claramente expresso na própria passagem. Cecil
Taylor tem uma mensagem baseada no Salmo 51.3, mostrando os passos que
Davi sabia que tinha que dar antes que pudesse pregar aos transgressores
e ver pecadores voltando-se para Deus (Sl 51.13). Um tema excelente
para se pregar a evangelistas, pregadores, pastores e seminaristas. A
idéia, Taylor tirou do v. 13, mas os passos (vendo o v. 13 como um
clímax), dos versículos anteriores. Antes que qualquer cristão possa
ensinar aos transgressores os caminhos de Deus e vê-los convertidos, é
necessário que haja a remoção do pecado (51.1-9), renovação de um
espírito reto (51.10), reconhecimento da obra do Espírito Santo (51.11) e
restauração da alegria da salvação (51.12). O que ele quis dizer, o que
determinou como tema da mensagem, foi isto: para levar os perdidos ao
Senhor, o povo de Deus precisa por algumas coisas em ordem.
Agora, um exercício prático. Com as idéias de Cecil Taylor, construa um esboço de sermão, respeitando a linha aqui mostrada.
Em outras ocasiões, o tema é apenas sugerido pelo texto. Por exemplo,
em Romanos 1.11-13, Paulo deu as razões pelas quais desejava estar junto
com os cristãos de Roma. Ele queria “repartir com eles alguns dons
espirituais” (1.11), “ser confortado juntamente com eles” (1.12) e
“obter alguns frutos” no meio deles (1.13). Aqui estão algumas das
razões que levam qualquer pessoa à igreja: dar alguma coisa, uma bênção
(1.11), receber alguma coisa, como encorajamento (1.12) e ajuntar alguma
coisa, ou seja, fruto (1.13), isto é, convertidos em crescimento
cristão. Assim desenvolvi um sermão com o título “Por Que Ir à Igreja?”.
As divisões ficaram:
1. Para dar alguma coisa
2. Para receber alguma coisa
3. Para ver frutos
Preste atenção: Paulo e os romanos foram deixados de lado. O tema
passou a ser o sugerido pelo texto. Paulo queria ir à igreja de Roma,
então, a linha passou a ser essa: por que ir à igreja? Basta seguir
nesta direção, portanto.
ESTÁGIO CINCO: COLOCAR CARNE NO ESQUELETO (RECHEAR AS DIVISÕES)
Sendo o sermão expositivo, é necessário que cada divisão esteja calcada
no texto bíblico. Os exemplos anteriores mostraram isso. Mas achadas as
divisões, vem a pergunta: “E agora, como rechear isso?”. Como
desenvolver o esboço?
Quatro coisas podem ser feitas para que desenvolver os pontos ou divisões: redeclarar, explicar, provar ou aplicar.
A redeclaração
simplesmente apresenta a idéia do texto em outras palavras, para
clareá-la ou para enfatizá-la. Às vezes faço questão de repetir a idéia
do autor com minhas palavras, para que o povo saiba, exatamente, o que
está sendo dito. A redeclaração responde à pergunta: “Oque foi dito?”.
A explicação responde
à pergunta: “O que isto significa? Em 1Coríntios 12.13 Paulo declarou
que “todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer
judeus, quer gregos, quer livres”. Ele estava partindo de um pressuposto
que eu não posso ter: seus ouvintes sabiam o que ele estava dizendo.
Mas se eu usar a expressão “batismo em um Espírito”, meu ouvintes,
provavelmente, não saberão do que trata. Tenho que me antecipar às suas
dúvidas e me preparar para responder tais perguntas em meu sermão.
A prova responde
à questão: “Isto é verdadeiro?”. Não que se esteja questionando
qualquer parte da Bíblia (embora o auditório incrédulo possa assim
fazer). É mais uma questão psicológica: nem sempre a aceitação vem pela
simples citação das Escrituras, tornando-se necessário comprovar a
declaração, através do raciocínio e de ilustrações. O apóstolo Paulo,
por exemplo, entendeu que a validade de sua argumentação não vinha
apenas do Antigo Testamento. Era necessário provar, pelo senso comum e
pela vida. Quando ele desejou provar à congregação dos coríntios que os
ministros tinham o direito de serem pagos pelo seu ministério,
argumentou com as Escrituras, mas também com a experiência, com o que se
via no dia a dia. Leia-se o texto de 1Coríntios 9.7-12.
Se como pregador eu falhar em responder à pergunta “isto é verdade?”, estarei falando somente para aqueles que já estão
convencidos de que o que eu prego é verdadeiro. Para falar a todos os
meus ouvintes, eu preciso tratar honestamente desta pergunta ou questão.
A aplicação responde
à pergunta: “E daí, o que diferença isto faz hoje?”. É fundamental que o
pregador explique e argumente com a verdade da passagem e que não deixe
NUNCA de relacionar a verdade com a vida dos seus ouvintes. Nós não
pregamos para defuntos dos tempos bíblicos. Pregamos para nossos
contemporâneos. O sermão precisa chegar a este ponto: “Entenderam bem? É
isso que vocês devem fazer!”. Se não fizermos assim, não haverá
resultado nem sentido em nossa pregação. É necessário mostrar que o que
foi dito faz diferença hoje.
Resumindo: para rechear as divisões é necessário redeclarar, explicar, provar e aplicar.
ESTÁGIO SEIS: PREPARAR A INTRODUÇÃO E A CONCLUSÃO
A introdução é altamente relevante. Ela necessita chamar a atenção e
conduzir os ouvintes ao principal, o corpo do sermão. A conclusão deve
encerrar o sermão e levar a uma decisão. Se o pregador notar que, em sua
introdução já preparada, não conseguirá atrair bem a atenção do povo
para o que vai discutir, ele necessita trabalhar mais sua introdução. Se
o pregador não pode mostrar, na conclusão, o que pregou e o que espera
que as pessoas façam, deve trabalhar mais esta parte do sermão. Na
realidade, tenho um problema aqui. Todos os livros de Homilética dizem
que a introdução deve ser preparada por último. Geralmente é a primeira
parte que faço, porque ela me direciona em toda a argumentação. Muitas
vezes mudo conceitos e dou nosso novo arranjo às frases, mas via de
regra a introdução é a primeira coisa que faço no sermão.
Um bom padrão para estabelecer a conclusão é este: o que o pregador
pensa que Deus espera que seja a reação dos ouvintes? Como as pessoas
devem responder a Deus? Isto determinará o rumo da conclusão.
CONCLUSÃO
Dois dos adversários dos pregadores de hoje são a preguiça e a
autocondescendência. O pregador faz um esboço e acha que já está bom,
porque já tem o que dizer. Não busca a excelência, que é fazer o melhor.
E é autocondescendente: está satisfeito com o que fez e consigo mesmo.
Ser um bom pregador demanda trabalho e uma constante insatisfação com a
qualidade de sua produção. Um desejo de querer fazer o melhor, sempre,
sempre. Sem estas duas características, trabalho e autocrítica, o
pregador terá pouco sucesso em seu trabalho. Deus pode abençoar, mas o
pregador estará sendo irresponsável. Que nunca sejamos irresponsáveis.
O SERMÃO BIOGRÁFICO
O sermão biográfico é aquele que aborda a vida de uma personagem
bíblica, extraindo dela princípios para a nossa vida. Ele busca ligar
uma vida do passado às vidas presentes, usando aquela para esclarecer e
orientar estas. Pela sua natureza, é bastante atraente. Os livros que
tratam desta área, biografia, mesmo os seculares, mostram boa vendagem. O
povo gosta de biografias. Gosta também, de saber das lutas e vitórias
de outros crentes e como imitá-los. É bom ver que grandes vultos do
passado passaram por crises semelhantes às nossas e as venceram.
Caracterizemos bem o sermão biográfico. Não é contar a história de
algum personagem bíblico, tirando lições para nossa vida. Isso pode até
ser edificante, mas não é um sermão. Um sermão carece de idéias
concatenadas, postas em argumentação crescente até um clímax. As idéias
devem ser atuais, mostrando relevância para o auditório. Muita pregação
falha por isso. É irrelevante. Gente normal não perde sono com heteus,
cananeus, girgaseus, geografia da Palestina ou costumes de uma cultura
distante no tempo e no espaço. Perde o sono com problemas de
relacionamentos domésticos, emocionais, profissionais ou estudantis. Com
inflação, doenças, desemprego, traição de amigos, etc. Houve gente na
Bíblia que passou pelo que o ouvinte passa? Como sobreviveu? Alguém tem
um filho rebelde? Davi precisou fugir do filho Absalão. Um rapaz luta
para se manter puro diante do assédio de uma mulher mais experiente?
José passou por isso. Esta é a possibilidade do sermão biográfico. Há
séculos que a humanidade vivencia os mesmos problemas de
relacionamentos, com variações pequenas. Foi assim nos tempos bíblicos. O
que enfrentamos que eles não enfrentaram? A Bíblia focalizou essas
questões e as respondeu, como sempre, de maneira admirável. Cabem aqui
as palavras de Billy Graham: “O homem é precisamente o que a Bíblia diz
que ele é” 6. Quer conhecer bem o homem? Estude a Bíblia, mais que filósofos e sociólogos.
1. O benefício da pregação biográfica
Os sermões biográficos ajudam o pregador em cinco aspectos principais.
Primeiro: Levam-no
ao estudo sério da Palavra de Deus. É necessária muita leitura bíblica,
muito cotejo de textos e verificação de citações. O pregador deve
saudar com efusividade todo sermão que exija dele tempo com as
Escrituras. Numa época de fast food,
em que predominam a pressa e a superficialidade, o púlpito tornou-se
emissor de banalidades. Boa parte dos sermões nada acrescenta à vida do
povo. Infelizmente com certa dose de razão, alguém definiu um pastor
tradicional como “Uma pessoa invisível durante a semana e irrelevante
aos domingos”. A demora no estudo da Palavra é salutar. Para o pregador e
para o povo.
Segundo:
Tornam-se motivo de aplicação mental. É necessário analisar muito bem,
porque a ordem cronológica pode não ser a melhor para a apresentação das
idéias. Até mesmo a ordem em que os trechos surgem pode não ser a
melhor. Exige reflexão, acuidade mental, raciocínio lógico.
Terceiro: O
ato de debruçar-se sobre personalidades exemplares (boas ou más) é
fonte de crescimento. Debruça-se sobre o caráter de pessoas que fizeram
coisas dignas de registro (boas ou más) e que podem nos transmitir
lições.
Quarto: Este
tipo de sermão agrada às pessoas, mais particularmente a adolescentes e
jovens, que gostam de biografias. Veja o volume de livros seculares
sobre a vida de pessoas. Até sobre a vida deVera Fisher…
Quinto: Seu
grande valor está em que lidam com vidas e não apenas com exposição de
conceitos. Trata de questões reais e de gente de carne e osso, como nós.
Sexto: Há
abundância de material sobre o assunto. Quantos personagens bíblicos
há? Há muitos livros sobre o assunto. De um só relance alisto os
seguintes: All the Children of the Bible, The Women of the Bible, All the Kings and the Queens of the Bible e All the Men of the Bible, todos de Lockyer; Mark These Men, de Baxter; Men Who Knew Christ, de Lasor; Estos Vinieron a Jesus, de Meyer, Doze Cristãos Intrépidos, de Coleman, e Doze Homens Comuns,
de MacArthur Jr. Usei este ultimo numa série de sermões sobre os
apóstolos, e me foi muito proveitoso. Ou seja, há material farto e de
boa qualidade para ajudar no estudo dos vultos bíblicos.
2. Um exemplo negativo de sermão biográfico
Alguém preparou um sermão biográfico sobre Isaque. Abordou a política
de Isaque de abrir novos poços quando lhe tomavam um. A idéia era
excelente, mas o sermão só serviu para cavadores de poços. O sermão
ficou no passado, com os verbos ilustrando ação acontecida e trazendo o
nome do personagem no título e nas divisões. Perdeu a contemporaneidade.
Um sermão sobre Gideão, que poderia ter sido muito interessante, pois
Gideão não é muito conhecido de nossas igrejas, fracassou por completo. O
título foi “A Vida de Gideão”. As divisões foram:
1. Gideão colocou a vida nas mãos de Deus
2. Gideão foi sincero para com Deus
3. Gideão se dedicou por completo à obra de Deus.
Analisando o esboço, observamos algumas coisas:
1ª.) O título é ruim. Nada diz sobre os ouvintes ou sobre nossos dias. E
é muito genérico, nada dizendo. Só serviria para alguém chamado Gideão.
2ª.) Os verbos estão no passado, remetendo o ouvinte ao ontem do texto,
quando se deveria trazer a lição do texto para o hoje do ouvinte.
3ª.) As divisões são típicas de uma análise histórica e trazem um
defeito de formulação: a 1 e a 3 guardam semelhanças. Na realidade,
dizem a mesma coisa com palavras diferentes.
Um pregador mais experiente modificou o esboço que ficou assim:
Título: “Um Jovem a Serviço de Deus”
1. Um jovem a serviço de Deus precisa ser sincero
2. Um jovem a serviço de Deus precisa ser consagrado
3. Um jovem a serviço de Deus precisa dar a glória a Deus.
Nesta nova estrutura, o pregador juntou o que eram as divisões 1 e 3, e
usou o texto de Juízes 8.23 como base para a divisão 3. Gideão se
recusou a ser rei, dizendo que o Senhor reinaria sobre o povo. Na
conclusão, o pregador comentou que Gideão fez um éfode (Jz 8.27) que
mais tarde levou o povo à idolatria. Concluiu dizendo que um jovem a
serviço de Deus não deve deixar brechas, com suas atitudes, para que o
nome de Deus seja desonrado.
Como se vê, não basta ter um personagem nem esquematizar sua vida. É
preciso relevância, contemporaneidade, evitar-se a repetição de idéias e
facilitar a assimilação por parte do auditório. Para este último fim,
manter um número de palavras semelhantes nas divisões é bom. Ajuda a
memorizar o que se disse.
3. Um exemplo positivo de sermão biográfico
Veja este sermão sobre Sansão. O título é “A Fraqueza do Forte”. As divisões ficaram assim:
1. A inocência da infância – uma promessa esperançosa
2. As tentações da mocidade – um perigo ameaçador
3. A pecaminosidade da maturidade – uma tragédia fatal.
Um esboço deste tipo é acompanhado pelo povo com muito mais interesse.
Se fosse apenas um esquema histórico, boa parte das pessoas se
desligaria do assunto. Não haveria relação alguma entre o que estava
sendo dito com a vida dos ouvintes.
É preciso trabalhar bem as idéias. No livro de Lockyer, All the Men of the Bible,
o autor apresenta um esquema sobre a vida de Nicodemos. Deu-lhe o
título “O Homem que Veio a Jesus à Noite”. As idéias para as divisões
são:
1. Ele veio a Cristo (Jo 3.2)
2. Ele falou por Cristo (Jo 7.45-52)
3. Ele honrou a Cristo (Jo 19.38-40).
O exemplo é singular, pois a cronologia vem em uma argumentação
crescente. Mas como sermão deixaria a desejar. Utilizei a idéia de
Lockyer (concedendo-lhe o devido crédito), adaptando-a para a seguinte
forma:
Título: “Uma Tardia Demonstração de Amor”
1. A tristeza de perder oportunidades (Jo 3.1-9)
2. A tristeza do medo do envolvimento (Jo 7.45-52)
3. A tristeza de uma ação inútil (Jo 19.38-40).
Na introdução fiz a ligação entre os conceitos “tardia” e “tristeza”
para não trabalhar com conceitos diferentes, no título e nas divisões.
Lockyer concluiu com uma bela frase: “É melhor dar flores para um vivo
do que guardá-las para seu sepultamento”. Usei a poesia de Mirtes
Mathyas, “Se podes dar-me uma flor, dá-me uma flor agora”.
Ao invés de ler os três textos como base para o sermão, li apenas João
3.1, que introduz Nicodemos na Bíblia e disse que usaria outros textos.
Apresento um esboço de estudo bíblico sobre Josafá, que apresentei em
minha ex-igreja. Note que é um estudo e não um sermão, o tom foi mais
coloquial, os participantes tinham a cópia e acompanhavam o desenrolar
do estudo com ela e a Bíblia aberta. Tomei liberdades estruturais que
não tomaria num sermão. Falei sobre Jeosafá e usei os verbos no
pretérito, nas divisões. Num sermão, apresentaria os conceitos, e não
Jeosafá:
IGREJA BATISTA DO CAMBUÍ
PERSONAGENS DA BÍBLIA – JEOSAFÁ – Apresentado em 30.8.7
TEXTO INICIAL: 1REIS 15.24
Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
INTRODUÇÃO
Jeosafá
significa “Iaweh é juiz”. Filho do rei Asa, que empreendeu uma boa
reforma, recebeu este nome e teve um caráter orientado pelo pai.
Algumas marcas de sua vida podem nos orientar. Vejamos com atenção, pois
ele é um modelo de homem piedoso.
1.
ELE TEVE UM PAI QUE O ORIENTOU BEM – 2Crônicas 14.1-5. Veja-se a oração
do seu pai em 2Crônicas 14.11. Mas estudamos Jeosafá ou Asa? Estamos
vendo como um pai pode influenciar seu filho no bom caminho. Jeosafá
andou no bom caminho: 2Crônicas 17.3-6. Os filhos devem perseverar no
bom caminho que os pais ensinam.
2.
ELE DESENVOLVEU UM SISTEMA DE INSTRUÇÃO RELIGIOSA PARA O POVO –
2Crônicas 17.7-9. Muita gente segue a Cristo, é realmente convertida,
mas nunca usa sua posição para levar outras pessoas ao conhecimento da
verdade. Jeosafá quis ensinar o povo. Quando testemunhamos, somos
abençoados, como Jeosafá o foi: 2Crônicas 17.10.
3. ELE LIDEROU UM DESPERTAMENTO RELIGIOSO E JURÍDICO
Em
2Crônicas 14.4, seu pai comandou uma volta ao Senhor por parte do povo.
E foi um exemplo para o filho, que orientou os juízes para serem
pessoas corretas: 2Crônicas 19.5-7. Não usou nem torceu a justiça em seu
benefício, mas podia servir de orientador aos juízes! E ainda orientou
os sacerdotes: 2Crônicas 19.8-10.
4. ELE CONFIOU EM DEUS NO MOMENTO DE CRISE
Em
2Crônicas 20.1-3 ele busca ao Senhor em hora de crise. Sua fé era muito
firme: 2Crônicas 20.17-18 e 20. 20-21. Na hora da crise mostramos a
confiança que exibimos nos nossos cânticos ou nos descabelamos? É fácil
ser firme na igreja e no louvor. Mas e na hora da crise? Jeosafá era
fiel em qualquer momento.
5. ELE COMETEU UM ERRO – AJUNTOU-SE COM QUEM NÃO PRESTAVA
Fez
aliança com Acabe, rei de Israel. Jeosafá era rei de Judá, fiel e
temente e Deus. Acabe era pusilânime, idólatra e comandado por uma
mulher sagaz e oportunista. Em 1Reis 22.1-4, está o registro da aliança.
Nos versículos 5 e 6 se vê que os dois não falavam a mesma linguagem. O
que Jeosafá viu em Acabe? Ele não andou no caminho de Israel: 2Crônicas
17.4. Acabe ainda o traiu: 1Reis 22.30-33. Mas Deus fez justiça: v. 34.
Cuidado com gente falsa e aduladora!
CONCLUSÃO
A
biografia de Jeosafá se encerra em 2Crônicas 20.31-32. Palavras
elogiosas. Que o versículo 32 seja o epitáfio de cada um de nós!
4. Cuidados a tomar na confecção do sermão biográfico
Este tipo de sermão é fácil de se construir, mas alguns cuidados devem ser tomados em sua confecção. Alistamos alguns deles.
1º.) Escolha um texto que sirva de base para a linha a ser seguida no
sermão. Se houver muito material sobre a vida da personagem, não é
necessário ler tudo para o público. Leia um texto que baseie sua linha
de pensamento. Deve ser um texto que sirva de ponto de partida ou de
alicerce para a argumentação. Como fiz no sermão sobre Nicodemos.
2º.) Outros textos que servem de base para as divisões e argumentação
poderão ser lidos durante o sermão. O esboço de um sermão sobre Barnabé
explicita bem estes dois pontos:
Título: “Um Modelo de Vida” (IGCF)
Texto: Atos 11.22-24
1. É um modelo por ter o coração posto na obra (At 4.36-37)
2. É um modelo pelo apoio dispensado aos novos crentes (At 11.20-25)
3. É um modelo pela sua firmeza na graça (At 15.2)
4. É um modelo pela visão para compreender novos tempos (At 13.46-52)
3º.) Durante o seu estudo, leia todos os textos que se relacionam com
os eventos marcantes da vida do personagem ou até mesmo todos os textos
que se relacionem com ele. Pode ser que seja alguém do Antigo Testamento
com aspectos de sua vida esclarecidos no Novo Testamento. Hebreus 11
mostra que Abraão esperava que Deus ressuscitasse Isaque dos mortos, o
que Gênesis 22 não mostra. Veja se os dois Testamentos dizem algo sobre a
pessoa.
4º.) Leia sobre a vida do personagem em um dicionário bíblico. Nele
você encontrará uma sistematização cronológica. Mas cuidado, não se guie
pela cronologia na sua estrutura. Guie-se sempre pela argumentação
crescente. A cronologia pode ajudá-lo na compreensão da vida das
pessoas, mas prejudicá-lo na exposição.
5º.) Não conte história. Pregue um sermão. Uma história cresce em
cronologia e um sermão, em argumentação. Também não repita o texto com
suas palavras. Isso é tautologia. Há muitos sermões tautológicos: lê-se
algo e se repete o que se leu, com outras palavras. Veja o que o texto
tem a dizer.
6º.) Deixe de lado aspectos do biografado que não sejam relevantes para
o povo de hoje. Busque o que interessa. Veja os princípios que podem
ser aplicados à vida de hoje. Costumes daquela época, moedas, geografia,
indumentária, isso é secundário, quando não dispensável. Centre-se no
essencial. Leve o povo a ver que seus problemas e suas necessidades
foram experienciados no passado e que há soluções mostradas na Bíblia.
Este é o ponto mais forte do sermão biográfico: mostrar ao povo que seus problemas são enfocados pela Palavra de Deus.
7º.) Esqueça o nome da personagem tanto no título quanto nas divisões.
Centre a argumentação nos princípios que funcionaram naquela época e que
funcionam hoje. Um exemplo está em um sermão sobre João Marcos. A idéia
inicial, quando comecei a trabalhar as informações, era esta: “como o
rapaz vacilante rejeitado por Paulo tornou-se indispensável ao apóstolo,
no fim da vida”. Houve mudança na vida de João Marcos. Como mudar?
Como amadurecer? No geral, sem poder centrar em uma passagem específica,
o texto base, como ponto de partida, foi Atos 12.12. O título ficou
sendo “É Possível Amadurecer” e contou com duas divisões:
1. Analisando as opiniões adversas
2. Sabendo refazer os caminhos.
8º.) Tenha bastante cuidado com a contextualização. Já citamos o
exemplo do sermão sobre Isaque. Foi uma pena. Um pregador mais hábil fez
Amós dirigir seu sermão aos políticos brasileiros, ao empresariado, à
classe religiosa que busca vantagens nas relações sociais e fez uma
chamada ao povo para exercer a solidariedade. Foi um sermão pregado em
Brasília, na capela da FTBB, e teve, pelo local, grande significado.
Sintetizou a pregação de Amós e teve fartura de material para sustentar
as idéias. Quanto à contextualização esta deve ser feita sem forçar
situações, mas levando a vida da personagem responder a questões
hodiernas.
MODELO DE EXEGESE NUM TEXTO HISTÓRICO
Um dos problemas
para o pregador é preparar um sermão em um texto histórico. Como fazer
exegese em narrativa? Para discutir o processo de exegese em livros
históricos, apresento um esboço de sermão que preguei num trabalho de
jovens de uma igreja na região de Campinas. Após o esboço, mostrarei
como este foi montado. A finalidade não é mostrar um sermão de minha
autoria, mas sim como podemos transformar um texto histórico em uma
mensagem contemporânea sem forçar a situação. Procuro mostrar qual o
processo que uso. Não o descobri em livros, mas através do trabalho e da
intuição. Vou repartir o método, mais do que mostrar um esboço que fiz.
Tempos atrás, a Universal lançou a campanha da “Espada de Gideão”. Com base na citação de Juízes 7.20 (“As três companhias tocaram as trombetas e despedaçaram os jarros. Empunhando as tochas com a mão esquerda e as trombetas com a direita, gritaram: ‘À espada, pelo SENHOR e por Gideão!’” – NVI), a IURD distribuiu espadas de plástico (custando R$ 1,00 nas lojas de Manaus, mas pelas quais se pedia a módica oferta de R$ 40,00) com que se podiam despedaçar as dificuldades da vida. Isto não é uma exegese. É um uso absolutamente inadequado do texto bíblico. O uso do texto histórico requer alguns cuidados na interpretação e na aplicação. Não se pode isolar o texto não apenas do seu contexto, mas da sua história e da sua cultura. Ele narra um momento histórico, que não pode ser alegorizado, no tocante ao seu entendimento. Isto é diferente de fazer a aplicação homilética. Repito: para entender o texto não se deve trazer o texto para o nosso tempo. Deve-se ir ao tempo do texto. Em muitos círculos de estudos bíblicos vemos uma atitude estranha. Lê-se o texto e se pergunta: “O que você acha?”. Não é esta a pergunta. É: “O que o texto mostra que aconteceu?”. Não se pode tornar o texto contemporâneo. Isto é diferente de ver aplicações para os nossos contemporâneos e de usar uma linguagem contemporânea. Mas deixe o texto na sua época. Veja aplicações para a nossa época. Mas deixe-o no passado.
Devemos usar de atenção e cautela, aqui. Há hoje uma pregação maciça no
Antigo Testamento, mas esta é feita desconsiderando-se o ensino cristão
de que o Novo Testamento é o parâmetro que interpreta o Antigo
Testamento. Este tem sido usado sem exegese, apenas como suporte para
práticas as mais esdrúxulas possíveis. Como se pode fazer uma boa
exegese de um texto histórico? E como tornar algo do passado em algo
válido para nós, sem perdermos o senso de respeito pelo texto bíblico?
Porque muitas vezes se desrespeita o texto, fazendo-se com que ele diga o
que queremos e não mostrando o que ele está dizendo. Tentaremos mostrar
aqui, se não como fazer uma boa exegese, pelo menos como fazer uma que
seja razoável, mas que não violente a Bíblia.
1REIS 17.1-7
UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO
INTRODUÇÃO
Elias
aguça a imaginação. “Yah é El” (“Iahweh é Deus”). Ministério: 1Rs
17-19 e 21, e 2Rs 1-2. Esteve na transfiguração. Vinda prometida
precedendo o Messias (Ml 4.5), designando outro grande vulto, o Batista
(Mt 17.12-13). Símbolo dos profetas. Cálice de vinho sobre a mesa para
ele, em solenidades judaicas, hoje. Três apocalipses atribuídos.
Impressionou a mente dos judeus. “Os aparecimentos raros, súbitos e
breves de Elias, sua coragem indômita e seu zelo ardente, o fulgor dos
seus triunfos, o patético do seu desânimo, a glória do seu passamento e a
tranqüila beleza de sua reaparição no Monte da Transfiguração,
tornam-no um dos vultos mais grandiosos e românticos que Israel
produziu” (Halley). Mas: Tg 5.17. Seu ministério e lições para nós. .
1.
UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, PRECISA TER CORAGEM – Enfrentou
Acabe sem medo: 1Rs 18.15-19. Mais de uma vez: 1Reis 21.17-24. Enfrentou
os 450 profetas de Baal, sem medo, dando-lhes, a prioridade: 1Rs
18.22-25. Muita confiança na direção de Deus. Lição: ousadia e
confiança. Ministério não é para inseguros.
2.
UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, DEVE SER INTERCESSOR – Voltemos
no tempo: 1Rs 17.17-21. Lembramos coragem e lutas. Intercessor. Orava
pelas pessoas. Não pedia notoriedade, mas a glória de Deus: 1Rs
18.36-39. Descobri isto agora. Orava pelo meu ministério, minha atuação.
Passei a orar pelo rebanho e me queixar menos dele. Jesus: “Roguei por
ti…”. “Oro por eles…”. Amar o rebanho e orar por ele.
3.
UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, TAMBÉM TEM FRACASSOS – Após
vitórias, medo: 1Rs 19.1-4. Consagrados estressam. Queixou de Deus: 1Rs
19.8-10, 13-14. Deus veio e o recuperou. Isto é graça. Ninguém é forte
para prescindir dela. Nem falha tão feio que deixa de recebê-la. Paulo:
2Co 12.9-10. São a oportunidade de Deus. Não se deprima com fracassos.
Aprenda deles.
4.
UM MINISTRO SOFRIDO, PORÉM ABENÇOADO, É HONRADO POR DEUS – 2Rs 2.1,11.
Só ele e Enoque tiveram a glória: não morrer. Deus o poupou e o levou
para junto de si. Nós morreremos, a menos que Cristo volte em nossa
vida. Mas seremos honrados por Deus, se tivermos uma vida de serviço: Ap
14.13. Teremos galardão: 2Co 5.10.
CONCLUSÃO
– A grande lição de Elias: Deus vê nossa fidelidade, nosso serviço, nos
socorre em nossas fraquezas e nos galardoa. Vale a pena ser fiel a
Deus. Ministros humanos, falhos, mas apaixonados pelo Senhor,
dependentes da graça. Não somos semidivinos. Humanos, falhos. Mas
triunfamos na dependência de Deus!
OPBB – Bahia, jan/2008
OBSERVAÇÕES
1.
A primeira coisa a se fazer na exegese de um texto histórico é
delimitá-lo. Isto é, definir exatamente qual o trecho da história do
personagem que vamos utilizar para subsidiar nossa mensagem. Sua
história pode se estender por muitos capítulos. É necessário determinar
que parte empregar. Não se podem ler dois ou três capítulos para uma
mensagem. Até mesmo a exegese para uso pessoal, sem a preocupação de
ensinar, se for feita num texto muito amplo, trará confusão. Limite o
texto, portanto. Obviamente deve ser uma parte significativa, que lhe
permita envolver e desenvolver as demais.
2.
Se o texto for muito longo, não havendo possibilidade de delimitá-lo,
use-se uma passagem que possa ser empregada como central ou como
referencial, ao redor da qual toda a exegese orbite. Evite ficar
desorientado. E evite desorientar o povo com uma leitura extensa.
3.
No caso texto em tela, havia um pensamento completo. A exegese sempre
obedece a um critério hermenêutico, mas quando ligada à confecção de uma
mensagem, deve seguir uma linha que não pode ser ignorada: Qual é, exatamente, a mensagem central que aparece aqui?
É o que, em Homilética, chamamos, no sermão, de propósitos geral e
específico: o que queremos mostrar. A pergunta é esta: “No caso da
exegese, o que, além do que o texto ensina, de forma global, desejo
encontrar para ensinar ao povo?”. Não se trata de fazer o texto dizer o
que queremos, mas de evitar detalhes desnecessários, de geografia, de
cultura e explicações históricas que pouco acrescentarão. Algumas vezes
esses detalhes enriquecem e elucidam, mas em outras (talvez a maioria)
são perda de tempo. Seja atento! Há muita exegese inútil, cansativa, e
até mesmo massacrante para o povo. Por isso muita gente acha que exegese
é cansativa e que sermão expositivo é algo pesado. É preciso fazer a
exegese limpa (sem direcionamento), mas também fazer uma exegese prática
(o que observamos que será útil para o povo).
4.
Especificamente aqui, subordinei à exegese a uma pergunta, produto de
observação. A observação foi esta: Elias foi um ministro de Deus fiel e
bem sucedido no trabalho. A linha de pensamento se manifestou numa
pergunta: “Como ser um ministro assim?”. Muitas circunstâncias de sua
vida tinham lugar no estudo. Mas eram circunstanciais. Um cuidado que se
deve tomar na pregação é não priorizar o circunstancial sobre o
essencial. É óbvio que, se está na Bíblia, tem razão de ser e deve ser
analisado. Mas lembre-se: nós não ensinamos curiosidades, mas
vivencialidade para o povo de Deus. Podemos achar que certos detalhes
são curiosos, mas a questão é esta: “acrescentam alguma coisa à vida?”.
Podem ser até atraentes, mas desviar a atenção do auditório para o
secundário. Nossa preocupação não de ser a de mostrar erudição ou exibir
nossas pesquisas, mas auxiliar o povo a se apropriar das promessas e
advertências da Palavra de Deus.
5.
Lido o texto várias vezes, a linha exegética foi esta: como um obreiro
pode ser um ministro fiel? O texto de Tiago 5.17 foi utilizado para
mostrar que Elias não foi um super-homem, mas um homem como nós. Por
isto, podemos nos mirar nele. Isto é fundamental: a
utilidade da exegese num texto histórico vai depender da capacidade do
exegeta de mostrar princípios de vida daquela história que servem para a
história das pessoas hoje.
Se o exegeta falhar nisto, de nada vai adiantar o seu trabalho.
Ensinará curiosidade e não vivencialidade. Efetuar exegese por exegese,
sem busca de princípios para nossa vida, é desperdício de tempo.
Ensinamos a Bíblia e não curiosidades da Bíblia, sempre vale a pena
repetir.
6.
Neste caso, a exegese foi elaborada em termos de procurar princípios de
valor universal para aplicar hoje. Atenção: numa exegese encontramos
princípios de valor relativo, temporários, e princípios de valor
universal que transcendem tempos e épocas. O bom exegeta sabe ver os
dois tipos, mas entende que os primeiros nada acrescentam à vida das
pessoas. Por exemplo: se eu me centrasse nas roupas de Elias e sua
indumentária, isto nada traria para meu auditório. Na realidade, isto
não é nem mesmo um princípio. Mas serve como ilustração: é possível
encontrar um princípio (ou material) que nada acrescente. Os princípios
que servem para hoje foram encontrados e forneceram as três divisões do
sermão. Mas eis um princípio cultural e limitado historicamente, que eu
não posso usar: a ordem para matar os idólatras. Está lá como atitude de
Elias, mas não pode ser a dos meus ouvintes. Isto foi um princípio
relativo a uma época.
7.
Na divisão dois, centrei-me em eventos na vida de Elias que serviam
para meu auditório. Atenção: estas atitudes foram encontradas prestando
atenção nas ações. Novamente um princípio de exegese que temos
enfatizado: preste
atenção nas ações, nos verbos, preste atenção em mudanças de atitudes,
em atitudes mesmo, naquilo que os verbos estão mostrando.
Lembre-se: verbos mostram ação. Substantivos mostram conteúdo.
Adjetivos mostram emoções. Todos têm seu lugar e devem receber atenção.
Estão dizendo alguma coisa. Quando analisar verbos, preste atenção no
que está sendo feito. Há uma ação sendo desenvolvida. Quando se centrar
nos substantivos, preste atenção naquilo que está sendo dito, na
substância do evento. Quando lidar com os adjetivos procure ver o que as
pessoas estavam sentindo ou atribuindo valor (ou Deus estava sentindo
ou atribuindo valor). São categorias diferentes de palavras e categorias
diferentes de valores.
8.
Outra questão: não basta achar os princípios. É necessário torná-los
contemporâneos aos ouvintes. Eles, os princípios, devem ser relevantes.
Isto é fundamental. O texto registra uma história, a de Elias. Nós não
devemos estudar o texto para pregar aquela história. Não pregamos Elias.
Nós pregamos os valores daquela história e sua aplicabilidade ao nosso auditório.
O Espírito Santo aplica as verdades da Palavra aos pecadores, cremos
nisto. Mas o exegeta tem uma função e deve cumpri-la bem: ele cava
verdades nas Escrituras e as torna claras, sem dubiedade, para seus
ouvintes. Não podemos deixar dúvidas na mente do povo.
9.
É preciso distinguir entre a verdade em si e o que a verdade ensina.
Entre a simples presença, que é a forma, e o conteúdo que é o que está
sendo mostrado. Neste segundo aspecto, há outro ensino a recolher: é
preciso prestar atenção no que o personagem está dizendo. Nem sempre o que o personagem está dizendo é a palavra de Deus. Toda a Bíblia é a Palavra de Deus, mas os personagens podem estar expressando opinião pessoal.
Um exemplo, fora deste texto: os amigos de Jó deixaram vários discursos
ao longo do livro de Jó. Alguém pode pegar um texto deles e pregar. Mas
corre um risco. Deus os censurou: “Depois que o SENHOR disse essas
palavras a Jó, disse também a Elifaz, de Temã: “Estou indignado com você
e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu
respeito, como fez meu servo Jó” (42.7, NVI). O exegeta pode estar
trabalhando um texto que não expresse um bom ensino sobre Deus, ou uma
teologia sadia. Outro exemplo: “sabemos que Deus não ouve a pecadores”,
disse o ex-cego de nascença (João 9.31). Uma exegese aqui tem que ser
bem criteriosa. Se Deus não ouve a pecadores, a quem ouve, então? Se não
ouve a pecadores, de que nos vale orar? É preciso saber se o que está
sendo dito é uma verdade linear, clara e objetiva, ou se traz algo
oculto em si. Se o termo tem o significado a que estamos acostumados. Se
a pessoa tinha credencial para dizer o que disse, etc. Evite a visão
linear, simplista, principalmente num texto histórico. Tenha sempre em
mente que um texto histórico não é teologia, mas narrativa. É a
interpretação da história pelos autores bíblicos, e não um tratado
teológico. Não elabore preceitos teológicos em textos históricos. Em
outras palavras, não faça teologia em eventos históricos. Podemos ver as
lições teológicas, mas fazer teologia é outra coisa. Elabore atitudes
de vida. Como exegetas e ensinadores da Bíblia, buscamos os princípios
na narrativa e os aplicamos à vida dos ouvintes.
UMA PALAVRA FINAL
O que vale a pena ser feito vale a pena ser bem feito. A pregação é a
mais sublime tarefa que podemos desempenhar. Se cremos mesmo que a
Bíblia é a Palavra de Deus e cremos mesmo que recebemos uma chamada de
Deus para pregá-la aos homens, pregar bem deve ser um desafio para nós. O
comodismo é incompatível com o caráter do pregador do evangelho e com a
dignidade da pregação. Deve ser muito bem feita. Para isto devemos
estudar sempre e buscar melhorar. E voltemos ao nosso tema: o púlpito
contemporâneo deve ser bíblico, cristocêntrico, bem preparado e sério.
E se cremos que pregar o evangelho é glorificar a Deus, devemos fugir
do estrelismo. Toda a glória deve ser de Deus. O lema de cada pregador
sério deve ser o do Batista: “Que ele cresça e eu diminua”. Seja assim
conosco.
1 PETERSEN, Eugene. Ânimo – o antídoto bíblico contra o tédio e a mediocridade. S. Paulo: Mundo Cristão, 2ª. ed., 2008, p. 107.
2 Aos interessados, recomendo a leitura de Apologética cristã no século XXI,
de Alister McGrath, o chamado “intelectual de Oxford”, principalmente
o tópico “A apologética é baseada na capacidade de Deus comunicar
sobre si mesmo em linguagem humana”, a partir da página 31. O livro é
da Editora Vida.
3 Sobre isto, veja a obra de Francis Schaeffer, He is there and He is not silent, Editora Logoi, Miami.
4 MACARTHUR JR.,John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. S. Paulo: Hagnos, 2005.
5 PETERSEN, op. cit., p. 107.
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